Título: Planalto já não crê em diálogo com oposição
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os principais dirigentes do PT já não acreditam que seja possível qualquer acordo de paz com os partidos de oposição. Para os auxiliares mais próximos o presidente tem dito que os tucanos e os pefelistas avançaram há muito tempo o sinal da convivência política possível com o bombardeio feito sobre seus familiares e com os ataques pesados sobre seus assessores diretos, como seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Segundo esses interlocutores, Lula avaliou que as denúncias do envolvimento do PT num suposto esquema de caixa 2 recebendo dinheiro do governo cubano também estão sendo infladas pelos integrantes da oposição. E não desautorizou o presidente do PT, Ricardo Berzoini, nem outros parlamentares petistas que, em recentes pronunciamentos, fizeram fortes críticas à oposição.

Lula não tem dúvidas de que esta vai continuar trabalhando para associar cada vez mais a imagem do governo ao escândalo do mensalão. Por isso, também não tem desestimulado seus assessores a responder diretamente às críticas sofridas, sempre que acharem conveniente - embora continue preferindo que a prioridade seja falar bem dos programas do governo, sobretudo na área social.

CASO SANTO ANDRÉ

A disposição do presidente, também, é não interferir quando algum assessor ou aliado próximo elevar o tom contra os adversários. Foi assim, por exemplo, no caso de Gilberto Carvalho, que participou de uma acareação com os irmãos do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, na CPI dos Bingos.

Pela primeira vez Carvalho reagiu mais duramente às acusações dos irmãos do ex-prefeito a respeito de um suposto conhecimento, da parte dele, de um esquema de arrecadação de dinheiro para o PT naquela cidade. A nova estratégia atendeu a insistentes apelos de líderes petistas, para os quais Carvalho está sendo envolvido injustamente e devia reagir com força.

No Planalto, a avaliação é que a oposição pretende focar seus ataques em Lula, por entender que ele estaria conseguindo escapar aos efeitos do escândalo do mensalão. As últimas pesquisas apontam que a candidatura de Lula à reeleição continua competitiva - ela é ameaçada, até o momento, apenas num cenário onde o candidato do PSDB é o prefeito de São Paulo, José Serra.

Em outras simulações contra candidatos tucanos, Lula sempre se sai melhor. Por isso, avaliam os aliados diretos do presidente, a oposição pretenderia ampliar a pressão sobre a figura de Lula para tentar desgastá-lo.

Por conta disso, os petistas já decidiram que não vão recuar no confronto com a oposição, aceitando a guerra política entre os dois grupos. "Se eles têm elementos para pedir o impeachment, devem avaliar. O fato é que o presidente tem apoio popular e a economia está crescendo", afirmou ao site do PT, no sábado, o presidente do partido, Ricardo Berzoini.

Integrantes da oposição, entretanto, não parecem preocupados com os efeitos negativos dessa guerra política. "É uma luta política feita por dois grupos que têm visões diferentes do mundo. Admito até que os dois podem morrer nessa guerra, mas não dá mais para recuar. Não existe qualquer possibilidade de paz entre governo e PSDB", afirma o deputado Eduardo Paes (RJ).