Título: Crise ressalta influência de Cheney no governo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2005, Inetrnacional, p. A12

WASHINGTON - O nome do vice-presidente Dick Cheney só aparece em três breves menções no indiciamento de 22 páginas que acusa seu chefe de gabinete, I. Lewis Libby Jr., de mentir aos investigadores e induzir ao erro um júri no caso de vazamento da CIA. Mas, na sua linguagem clara e fria, revela como o setor de Cheney no governo mirou agressivamente suas baterias contra Saddam Hussein e depois lutou para desacreditar os críticos da guerra contra Iraque. Agora, o documento levanta uma questão fundamental: qual a extensão do dano colateral que isso causou a Cheney? Muitos republicanos dizem que Cheney, que já estava politicamente enfraquecido por causa de sua participação na preparação das justificativas para a guerra, poderá ser mais prejudicado ainda se for obrigado a testemunhar. No mínimo, dizem eles, o setor dele no governo ficará temporariamente abalado com a renúncia de Libby, que controlava tanto os assuntos externos como domésticos numa época em que a equipe da vice-presidência tem servido como um importante braço do Executivo.

Os aliados de Cheney observaram que não há sinais no indiciamento de que o mais poderoso vice-presidente da história americana, com enorme influência em todas as áreas importantes da política do governo, tenha feito algo errado. Eles dizem, também, que Libby, cujo papel foi reduzido no ano passado, depois que a secretária de Estado, Condoleezza Rice, tornou-se mais poderosa, e as investigações de vazamento cobraram seu preço, poderá ser rapidamente substituído por um nome da grande lista.

O indiciamento contra Libby, conhecido como Scooter (Motoneta), alega que o escritório do vice-presidente era o centro de um esforço concentrado para obter informações sobre os principais críticos da política de Bush no Iraque.

A questão maior, disseram os republicanos, é o prestígio de Cheney com a população.

Christie Whitman, uma amiga de longa data da família Bush que criticou a Casa Branca e a ala direita republicana num livro recente, disse que não espera que a relação pessoal do presidente com Cheney mude. Não obstante, acrescentou ela, acredita que, se surgirem mais informações sobre o envolvimento de Cheney no vazamento "e se isso ficar pairando e se aproximar mais do vice-presidente, ele talvez se afaste do cargo, mas isso seria num caso extremo".