Título: Aécio critica 'disputa paulista pelo poder'
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2005, Nacional, p. A11

O governador de Minas, Aécio Neves, criticou ontem, em Londres, o que chamou de "disputa paulista pelo poder" envolvendo dirigentes do PT e do seu partido - o PSDB -, fato que, segundo ele, tem contribuído para radicalizar o clima político no País. Aécio prometeu, assim que voltar de sua viagem à Europa, procurar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para uma conversa política, buscando iniciativas apaziguadoras. "É preciso baixar a tensão entre os dois partidos que atingiu o seu nível máximo", disse ao Estado por telefone. A seu ver, PT e PSDB, mesmo defendendo candidaturas próprias, têm todo interesse em construir e manter pontes que poderão permitir, no futuro, a criação de um "pacto de governabilidade". Ele considera que Minas Gerais, onde não existe a mesma animosidade paulista, poderá desempenhar um papel importante nesse trabalho de preservação das pontes entre os dois partidos e evitar uma ruptura do diálogo. "Não somos inimigos, mas apenas adversários políticos."

Indagado sobre a radicalização da posição do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), após a denúncia sobre o financiamento do PT pelo regime de Fidel Castro, chegando mesmo a falar em impeachment do presidente, Aécio explicou que o senador sempre defendeu uma linha moderada, mantendo um diálogo aberto com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Outros dois ministros abertos ao diálogo e citados pelo governador de Minas foram Jaques Wagner (Relações Institucionais) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça).

Mas Aécio destacou que o PT não é um partido fácil de ajudar. "Bastou o presidente Lula ter tirado um pouco o pé da lama para eles partirem para o ataque frontal."

VÍTIMA

Para o governador, essa posição do PSDB corresponde à tese de radicalização do PFL que ele condena e que o preocupa, pois está convencido de que ela começa a prevalecer nesse momento junto a seu próprio partido. Segundo ele, PT e PSDB são as duas principais forças que podem garantir uma melhor governabilidade. "Vamos continuar trabalhando na construção de pontes, mesmo se outros procuram dinamitá-las."

O governador condena também a estratégia de tentar destruir o presidente procurando envolvê-lo em todos os escândalos de corrupção. "Ele vira vítima muito antes de se tornar corrupto." Lula, segundo Aécio, continua sendo um forte candidato à sua própria sucessão, mas, se reeleito, questionou, vai governar com quem?

Quanto ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador o localiza no campo dos mais moderados, entre os que pensam como ele. Aécio não descarta, se for necessário para o PSDB, a candidatura de FHC ao governo paulista. O governador destacou que, certamente, o ex-presidente terá um papel importante no processo da sucessão presidencial.