Título: Valério diz a CPI que estatais eram fonte de repasses
Autor: Christiane S., Cida F., Lisandra P.e Eduardo K.
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2005, Nacional, p. A14

Depois de três horas de reunião reservada com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, o presidente da CPI do Mensalão, senador Amir Lando (PMDB-RO), afirmou ontem que a comissão já comprovou a origem e o destino dos R$ 55,5 milhões do chamado ¿valerioduto¿, mas descobriu que o PT e os partidos aliados também foram abastecidos com dinheiro de outra fonte: as empresas estatais. Os R$ 55 milhões confirmados por Valério e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares não incluem, por exemplo, os R$ 4 milhões que o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) confessou ter recebido do PT. ¿Temos os elementos para bater a contabilidade do esquema de Valério com os documentos de movimentação bancária em poder da CPI¿, afirmou Lando. ¿Cada vez mais fica claro que ele não era o único esquema do PT¿, completou o senador Rodolpho Tourinho (PFL-BA), que também participou da reunião a portas fechadas, numa sala da biblioteca do Senado. A CPI quer investigar, agora, de onde vieram os milhões que rechearam a mala de dinheiro que Jefferson diz ter recebido. Na conversa com integrantes da CPI, o próprio Valério deixou claro que não era o único nem tampouco o principal operador do esquema. ¿Eu era um m... no esquema. Sou deste tamanhinho¿, disse. ¿Vocês têm de ir atrás, pois tem coisas importantes nas empresas estatais¿, continuou, segundo um participante da reunião. Ao final da conversa, da qual participaram ainda o relator, Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), e o senador Romeu Tuma (PFL-SP), concluiu-se que a primeira fase do inquérito está quase pronta. ¿Quanto aos R$ 55,5 milhões, temos condições de desvendar para onde e para quem foram¿, resumiu Lando. [INTERTITULO]NOMES[/INTERTITULO] A avaliação geral é de que a segunda fase da investigação, que terá a ajuda de 13 técnicos e auditores, poderá complicar a vida do governo. Abi-Ackel adiantou, ainda, que devem surgir mais nomes ligados ao esquema coordenado por Valério. A comissão está tentando ligar pelo menos três sacadores ¿ Francisco de Assis Novaes Santos, Newton Vieira Filho e Fernando César Rocha Pereira ¿ a outras pessoas, que podem ser os beneficiários do dinheiro. Os sacadores já foram identificados. Marcos Valério apontou Santos como um dos homens que teria recebido dinheiro em nome do publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha de Lula à Presidência. Seria um informante da Polícia Civil em Belo Horizonte. Newton é economista e foi coordenador da campanha do tucano João Carlos Lisboa à prefeitura de Nova Lima (MG). Pereira, também economista, já depôs na Polícia Federal e diz ter prestado serviços à SMPB, agência de Valério. [INTERTITULO]CUBA[/INTERTITULO] Na reunião com os integrantes da CPI, Valério disse que não não sabia ¿absolutamente nada¿ a respeito da denúncia da revista Veja desta semana ¿ de que a campanha de Lula, em 2002, recebeu entre US$ 1,4 milhão e US$ 3 milhões de Cuba. Segundo o advogado Marcelo Leonardo, Marcos Valério foi questionado sobre o assunto pela CPI, mas alegou que na época da suposta remessa não tinha nenhuma relação com o PT. Leonardo contou que o contato de Valério com o PT, por intermédio do ex-tesoureiro Delúbio Soares, ocorreu apenas no encerramento da última campanha presidencial. ¿O contato que ele teve foi apenas com o Delúbio, no final do segundo turno da campanha de 2002. E passou a ter contatos mais próximos a partir de fevereiro de 2003. Esse episódio é relatado como tendo acontecido, segundo a revista, em 2002¿, frisou.