Título: Lucro do Itaú cresce 39%. É recorde
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2005, Economia & Negócios, p. B8

O lucro líquido do Banco Itaú atingiu R$ 3,83 bilhões até o mês de setembro - valor 39,4% superior ao de igual período de 2004, quando a instituição apurou ganho de R$ 2,74 bilhões. Segundo levantamento da consultoria Economática, trata-se do maior resultado na história dos bancos no período de janeiro a setembro. Com esse lucro espetacular, a rentabilidade da instituição sobre o patrimônio líquido subiu de 28,1% para 34,8% - um dos melhores índices do setor. O diretor-executivo de Controladoria do banco, Silvio de Carvalho, atribui o resultado recorde do Itaú à expansão da carteira de crédito, especialmente nos segmentos de pessoa física e de micro, pequenas e médias empresas. De janeiro a setembro, o estoque total de crédito do banco saltou 15,66%, para R$ 61,62 bilhões.

No portfólio de pessoas físicas, o avanço chegou a 40,1% e somou R$ R$ 25,59 bilhões, desempenho que elevou a participação desses empréstimos na carteira do banco, de 29,9%, em 2004, para 41,5%, em 2005. Nas micro, pequenas e médias empresas, o avanço foi de 18,3%, para R$ 11,49 bilhões.

Em contrapartida, a carteira de grandes empresas recuou 2,5% de janeiro a setembro. Isso porque as companhias têm procurado outras formas de financiamento, como o mercado de capitais, com emissão de debêntures e ações. "Mesmo com a queda da taxa de juros no próximo ano, a tendência é as empresas continuarem diminuindo a participação na carteira de crédito", avalia Carvalho.

O movimento, no entanto, não preocupa o banco, cujo foco está no crédito ao consumo. Para isso, diz Carvalho, o Itaú conta com 110 lojas da financeira Taí, além de parcerias com supermercados da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), como Pão de Açúcar e Sendas, e Lojas Americanas. "Nossa expectativa é de crescimento entre 20% e 25% da carteira de crédito neste ano."

Apesar de apostar num nicho de mercado mais arriscado, o de pessoas físicas, o banco descarta uma possível explosão de inadimplência. Carvalho afirma que, mesmo com o aumento expressivo da carteira de crédito, o índice de inadimplência subiu apenas 0,1 ponto porcentual, de 3,2%, sem setembro do ano passado, para 3,3% neste ano. "A economia está sólida e não há motivos para uma mudança brusca negativa na qualidade do crédito", afirma ele.

Mas, como medida de segurança, o banco deve elevar os níveis de provisão para devedores duvidosos. A explicação para atuar num segmento mais arriscado é que, apesar de o índice de inadimplência ser maior, os ganhos com empréstimos e financiamentos também são elevados. Isso porque a taxa de juros cobrada dos consumidores é bem mais pesada.

Outro destaque do balanço do Itaú foram as receitas de prestação de serviço. De janeiro a setembro, esses ganhos subiram 28,6% em relação a igual período do ano passado, subindo de R$ 4,37 bilhões para R$ 5,62 bilhões. As receitas com cartões de crédito avançaram 72,6%, de R$ 791 milhões para R$ 1,36 bilhão.

A expectativa do banco é que a taxa Selic termine o ano de 2005 na casa de 18%, recuando para 15% ao final do próximo ano. Em relação à evolução do Produto Interno Bruto (PIB), Carvalho afirmou que seja possível que desempenho do País supere as previsões de 3,5% de crescimento.

O resultado do Itaú teve reação positiva por parte do mercado financeiro. As ações de boa parte das instituições que apresentam balanço nos próximos dias subiram forte no pregão de ontem. As ações preferenciais do Bradesco, por exemplo, avançaram 5,26% e as ordinárias, 4,74%. No Banco do Brasil, os papéis (ON) subiram 2,29%. No Itaú, no entanto, as ordinárias subiram 0,07% e as preferenciais caíram 0,43%.

TENDÊNCIA: Os grandes bancos de varejo, como Bradesco, Banco do Brasil e Unibanco, também deverão estampar nos próximos dias lucros espetaculares em seus balanços, a exemplo de Itaú, que ontem apresentou ganho histórico no setor bancário. Segundo o presidente da consultoria Austin Rating, Erivelto Rodrigues, a expectativa é que essas instituições de grande porte tenham resultados entre 40% a 45% superiores aos do ano passado.

Já no conjunto dos 170 bancos, a previsão é de um avanço da ordem de 25%. O executivo afirma que boa parte dos ganhos virá da carteira de crédito, principalmente das linhas voltadas para pessoas físicas e micro, pequenas e médias empresas. "A inadimplência nesse nicho de mercado é maior, mas o spread (ganho) compensa", avalia ele.

Outro fator importante serão as receitas de serviço, que a cada ano ganham espaço de destaque nos balanços dos bancos, afirma o analista da ABM Consulting, Edson Carminatti. De acordo com ele, em 2004 as receitas de serviços do Itaú cobriam 80% das despesas estruturais (pessoal e administrativa). Neste ano, já cobrem 87% das despesas, mesmo considerando o aumento de 38% desses gastos. Para Rodrigues, os lucros recordes dos bancos também deverão ser repetidos pelas grandes indústrias, como Companhia Vale do Rio Doce e Petrobrás. Já as empresas de menor porte terão resultados menos expressivos.