Título: TAP é eleita para tentar salvar Varig
Autor: Mariana Barbosa e Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2005, Economia & Negócios, p. B17

A Varig elegeu a proposta da TAP para participar da primeira fase do processo de reestruturação, em uma operação que conta com o apoio do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo a empresa, a proposta da estatal aérea portuguesa prevê aportes iniciais de US$ 62 milhões, sendo dois terços financiados pelo BNDES, a serem depositados em conta vinculada para o pagamento de empresas de leasing no exterior. Além deste investimento, a TAP poderá realizar uma operação de antecipação de recebíveis, cujo valor ainda não foi definido. A TAP também manifestou interesse em participar da segunda fase do Plano de Reestruturação da Varig, com investimentos que podem chegar a US$ 500 milhões. A expectativa da Varig é de que o depósito na conta das empresas de leasing deverá ocorrer até o dia 8, véspera da próxima audiência com o juiz Robert Drain, da Corte de Falências de Nova York. Segundo fontes do setor, a escolha da TAP - em detrimento das propostas do fundo Matlin Patterson, do empresário German Efromovich e da empresa de manutenção européia ATS - se deveu ao fato de a empresa apresentar como garantia o próprio governo português.

Está prevista para esta semana uma reunião do diretor financeiro da TAP, Michael Connoly com técnicos do BNDES para discutir a operação.

O anúncio da escolha da proposta da TAP evidenciou o clima de disputa entre o conselho de administração da Varig, presidido por David Zylbersztajn, e o conselho de curadores da Fundação Ruben Berta (FRB), controladora da companhia. À revelia dos curadores, Zylbersztajn e o presidente da empresa, Omar Carneiro da Cunha, convocaram uma coletiva de imprensa para o fim da tarde de ontem, para anunciar o investidor. Mas a entrevista foi cancelada algumas horas depois num sinal, dizem pessoas próximas às discussões, de que a fundação teria desautorizado "o ato de insubordinação". Isso porque a convocação da entrevista teria sido uma retaliação da direção da companhia pelo fato de os controladores terem reduzido sua representatividade junto ao BNDES para negociar o investidor.

"Estamos trabalhando num sistema que envolve ativos valiosos da fundação. Dentro dessa linha, estamos num processo conjunto de posicionamento", minimizou o presidente do conselho de curadores, César Curi, ao ser questionado se a fundação havia retirado poderes do conselho de administração da Varig e porque ele, em vez de alguém da direção, estava comunicando a escolha pela TAP.

"A opção da direção era pelo fundo Matlin Patterson. Eles estão pegando carona na escolha da fundação e agora querem levar os louros", ataca a presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio.

Na sexta-feira, o Colégio Deliberante, instância máxima de poder dentro da FRB, formado por 150 trabalhadores eleitos diretamente, se reúne para ratificar a proposta do BNDES. Na segunda-feira, dois dias antes da audiência na corte de Nova York, a assembléia de credores irá apreciar o plano de recuperação da companhia. Alguns credores ouvidos pela reportagem defendem a inclusão na pauta da assembléia de uma votação sobre a permanência ou não do conselho.

A saída de Zylbersztajn e dos demais conselheiros que assumiram a gestão da empresa em maio deste ano foi sugerida há duas semanas pelo vice-presidente da República, José Alencar, durante reunião em que foi anunciada a decisão do governo de participar, via BNDES, de uma solução para resolver os problemas da companhia aérea, que acumula uma dívida de mais de R$ 6 bilhões.