Título: Banco do Brasil desviou para o PT R$ 10 milhões, diz relator da CPI
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2005, Nacional, p. A4

Em sua mais importante descoberta até agora, a CPI dos Correios identificou pela primeira vez uma fonte dos recursos que abasteceram o esquema irregular montado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza em benefício do PT. Pelo menos R$ 10 milhões oriundos do Banco do Brasil serviram para alimentar o sistema em 2004, comprovando que dinheiro público foi usado clandestinamente para beneficiar o PT.

A revelação, como antecipou o Estado, derruba a versão de que o PT usou empréstimos bancários regulares, embora não contabilizados. Os R$ 10 milhões deveriam ter sido usados pela DNA, agência de Valério, em campanhas de publicidade da empresa de cartões de crédito Visanet. Mas o serviço não foi prestado, o dinheiro passou pelo Banco BMG e acabou no PT.

"Houve o direcionamento de R$ 10 milhões ao PT. R$ 10 milhões que foram para o valerioduto vieram de recursos públicos", diz o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Em 2003 e 2004, a Visanet - na qual o BB é sócio do Bradesco e do ABN Amro Real - repassou R$ 73,8 milhões à DNA. Do total, a CPI só esmiuçou operações que somam R$ 44 milhões.

CONTAS

Em 12 de março de 2004, a Visanet depositou R$ 35 milhões na conta da DNA no Banco do Brasil. Segundo o relator, esses recursos são apenas do BB, de um total de R$ 100 milhões destinados para propaganda em 2004.

Três dias depois do depósito da Visanet, em 15 de março, a DNA aplicou R$ 34,86 milhões no BB. Em 22 de abril, transferiu R$ 10 milhões do BB para o BMG. Quatro dias depois, o BMG fez empréstimo de R$ 10 milhões à Rogério Lanza Tolentino e Associados Ltda, empresa de Valério. A garantia do empréstimo foi a aplicação financeira em nome da DNA no valor de R$ 10 milhões. Esse empréstimo consta da lista apresentada por Valério como sendo do PT.

O diretor de Marketing do BB, Paulo Rogério Cafarelli, entregou à CPI nota técnica de 5 de maio de 2003, na qual o ex-diretor de Marketing Henrique Pizzolato cria o sistema de pagamento antecipado da publicidade da Visanet. Na lista de Valério, Pizzolato é beneficiário de R$ 300 mil. "A responsabilidade é do Pizzolato, que autorizou o pagamento antecipado dos recursos", afirmou Serraglio.

A CPI também investiga se Valério usou o mesmo esquema em 2003, na conta da Visanet. Em 19 de maio de 2003, a Visanet fez depósito de R$ 23,3 milhões no BB para a DNA. No dia seguinte, a agência aplicou R$ 23,21 milhões no BB. Logo depois, a agência SMPB pediu R$ 19 milhões ao Banco Rural. Esse empréstimo, segundo Valério, também foi repassado ao PT.

Em Belo Horizonte, a assessoria da DNA informou que a empresa está fazendo o levantamento dos trabalhos realizados e pagamentos e espera divulgá-lo hoje. Valério não deu entrevista. Sua assessoria disse que estava com advogados e só falaria quando a CPI tivesse relatório oficial. Seu advogado Marcelo Leonardo disse que ele não ficará "batendo boca" sobre os empréstimos. "Os empréstimos existem, são verdadeiros e estão provados por documentos."