Título: Denúncia mobiliza Planalto e Lula reúne ministros
Autor: Tânia Monteiro e João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2005, Nacional, p. A7

O Palácio do Planalto recebeu com um misto de preocupação e perplexidade a descoberta da CPI dos Correios de que recursos do Banco do Brasil, por intermédio da Visanet, abasteceram o esquema coordenado pelo empresário Marcos Valério. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu no final da tarde com os principais ministros para discutir a situação. Participou do encontro o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a quem o Banco do Brasil está formalmente subordinado. Lula vai viajar na manhã de hoje para Mar del Plata, na Argentina, onde participa da Cúpula das Américas. Antes de embarcar, ainda deverá tratar do tema com alguns ministros, na Base Aérea, para avaliar a repercussão das denúncias.

O Planalto já reúne argumentos para se defender. Assessores presidenciais lembram que, há 10 dias, auditoria interna estava sendo realizada por iniciativa do próprio BB. No Planalto, assessores salientavam que, se houver alguma irregularidade, do que os assessores palacianos não estão convencidos ainda, o governo tomará posição, punindo os responsáveis. Insistem que não há provas de que o dinheiro foi repassado ao PT.

Nas primeiras avaliações do Planalto há quem ache que foi Marcos Valério quem mostrou o caminho do dinheiro para poder tirar a responsabilidade de sua empresa, a DNA, que está sendo processada. Auxiliares do presidente questionam ainda que, se o valerioduto tinha tanto dinheiro, por que o PT ficou com a dívida de R$ 25 milhões e todos os envolvidos do partido, como Delúbio Soares e Silvio Pereira, estão "na pior".

"Por enquanto não estou vendo nada de errado", afirmou um auxiliar muito próximo ao presidente, tentando minimizar os fatos e lembrando que todas essas operações com empresas de publicidade sempre foram muito complicadas porque as agências "enrolam" para apresentar a prestação de contas. O primeiro impacto, para este assessor de Lula, é que ele não chegou tão forte ao Planalto.

Os parlamentares do PT reagiram com reservas à acusação. O deputado Carlos Abicalil (MT), sub-relator da CPI dos Correios, disse que são apenas ilações. "Serraglio diz que foram antecipados R$ 35 milhões para a DNA, mas o fluxograma mostra que o dinheiro foi primeiro depositado no Banco do Brasil, para depois parte migrar ao BMG. Ele conclui que o dinheiro foi repassado ao PT. É uma ilação, uma precipitação."

Para ele, ou Serraglio tirou suas conclusões com base no que já descobriu do esquema de caixa 2 da campanha do senador Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas, em 1998, ou foi precipitado.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, afirmou ontem que o partido desconhece qualquer operação que envolva a Visanet. O comando petista, reunido ontem na sede do partido, em São Paulo, pretende avaliar as declarações de Serraglio antes de se manifestar. A denúncia, porém, foi recebida com muita preocupação. "É jogar gasolina na fogueira", resumiu um dirigente do partido.