Título: MP decide apurar se há elo entre 6 crimes e caso Santo André
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2005, Nacional, p. A11

A Procuradoria-Geral de Justiça determinou cruzamento de informações acerca de todos os crimes de morte que, segundo promotores, poderiam ter conexão com o caso Celso Daniel, prefeito do PT de Santo André seqüestrado e executado a tiros em 2002. A meta é apurar se existe mesmo alguma ligação entre esses casos. O Departamento de Homicídios, órgão da Polícia Civil, afasta categoricamente vestígios de ligação entre as mortes. Rodrigo César Rebello Pinho, procurador-geral, decidiu fazer o raio X dos crimes, seis ao todo, depois que o legista Carlos Delmonte foi achado morto em seu escritório particular, a 12 de outubro. Delmonte havia apontado torturas no corpo de Celso Daniel. A polícia suspeita que o legista se suicidou. A família acredita em morte natural. Polícia e família descartam a hipótese de assassinato.

O rastreamento do Ministério Público está sob responsabilidade da promotora Tatiana Bicudo, da Assessoria de Gestão de Informação, órgão ligado ao gabinete do procurador-geral. "Vamos reunir os promotores que acompanham os inquéritos relativos a todas essas mortes para verificar se realmente há ligação entre um caso e outro", declarou Rodrigo Pinho. "A partir daí poderemos verificar se estamos diante de coincidências apenas. Caso contrário, vamos definir um trabalho específico de apuração."

Documento encaminhado pela polícia à CPI dos Bingos - que investiga implicações políticas no fuzilamento do prefeito - revela as condições em que ocorreram os casos. O relatório é subscrito pelo delegado Armando de Oliveira Costa Filho, que dirige a Divisão de Homicídios. Com a experiência de 2 décadas investigando crimes misteriosos, Costa Filho derruba a lenda das mortes atreladas ao caso Daniel. "Não há ramificação entre uma morte e outra."

O corpo de Celso Daniel foi encontrado na manhã de 20 de janeiro de 2002. A polícia prendeu 6 assaltantes, que confessaram o crime. Promotores acompanharam os depoimentos dos ladrões, que alegaram ter escolhido a vítima casualmente. A polícia definiu o caso como "crime comum". Para os promotores de Santo André, no entanto, Daniel foi emboscado e morto porque teria resolvido dar fim a um esquema de corrupção.

Entre abril de 2002 e dezembro de 2003, seis homens foram mortos a tiros, estiletadas ou por acidente - entre eles, os ladrões Dionísio Severo e Sérgio Estevam, o Sérgio Orelha, o garçom Antonio Palácio de Oliveira e o agente funerário Iram Moraes Redua. A polícia sustenta que eles não tinham informação sobre a morte do prefeito, rotulando de "fantasia" a tese de queima de arquivo. "O que o funerário poderia esclarecer se apenas recolheu o corpo do prefeito?", argumenta Costa Filho. Redua teria sido vítima de vingança de um colega.

O delegado esclarece que Dionísio, suposto líder do ataque ao prefeito, foi assassinado por Cesar Roriz, o Cesinha, no Cadeião do Belém. "Eles pertenciam a facções criminosas antagônicas", destacou Costa Filho. "Cesinha mandou matar Dionísio por rixa, isso está completamente esclarecido inclusive com interceptação telefônica."

"Os casos ainda estão sob investigação, não consta que tenham sido esclarecidos", declarou o promotor Amaro Thomé. "Há precipitação da polícia."