Título: EUA têm planos para conflito com Venezuela, diz 'Post'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2005, Nacional, p. A12

Como parte de um conjunto de estratégias para a política americana pós-Iraque, o Pentágono começou a preparar um plano de contingência para um possível conflito militar com a Venezuela. A iniciativa, revelada na edição eletrônica do jornal The Washington Post, consta de documentos incluídos na Revisão Quadrienal de Defesa (um volumete interno do Departamento de Defesa) e está presente também nos planos de defesa dos Estados Unidos para o período fiscal 2008-2013. A decisão de levar adiante esses planos foi adotada com base em instruções dadas pelo secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e por seus assessores civis. O jornalista William Arkin, que preparou o texto para o site do Post (www.washingtonpost.com), relata que o documento identifica 5 países que representariam ameaça específica para os EUA e os classifica em 3 grupos. No primeiro estão Coréia do Norte e Irã, "pelo seu envolvimento com armas de destruição em massa". A China vem em seguida, classificada como "um competidor em ascensão" e possível ameaça no futuro.

Por fim, diz Arkin, Síria e Venezuela são listadas como "rogue nations" - nações não-confiáveis, irresponsáveis. "O Pentágono também acredita que (o presidente Hugo) Chávez está encorajando revoluções na Bolívia e Equador, assim como dando apoio a grupos paramilitares na Colômbia", acrescenta.

Embora autocrático, prossegue o autor, Chávez também presidiu um crescimento sem precedentes na economia venezuelana, criando as bases para um significativo aumento nos serviços públicos. Dispondo de sólidos recursos e forte estrutura política, ele "tem sido capaz de manter a palavra dada aos pobres", o que lhe tem valido um alto nível de popularidade.

11 DE SETEMBRO

A emergência da Venezuela na lista de ameaças reais para os Estados Unidos é vista por fontes militares americanas como reflexo de "uma importante realidade bélica do quadro pós 11 de setembro". Segundo um dos vários documentos do Departamento de Defesa, "a guerra global ao terror é - corretamente - o nosso foco a curto prazo; mas certamente não queremos ser apanhados desprevenidos por uma série de outras possibilidades". A Venezuela fornece, aproximadamente, 15% do petróleo importado pelos EUA.

Arkin diz que a maioria das pessoas acredita que os EUA têm planos de contingência para todos os países, mas isso está longe de ser verdade. Em abril de 2004, Rumsfeld assinou um Plano Secreto de Contingência que determinou aos militares que preparassem 68 planos em 11 "famílias", em 4 diferentes níveis de detalhamento.Mas ele também pediu que os militares desenvolvessem planos "adaptáveis", para situações não antecipadas em outros estudos.

O pensamento em curso, segundo o texto, se afasta dos rivais militares tradicionais. Nesse sentido, a Venezuela é identificada nos briefings do Departamento de Defesa como ameaça "em ascensão". A proximidade da Venezuela com os EUA eleva a ameaça ao nível de "segurança territorial", "aumentando instantaneamente a prioridade de planejamento".

Com a ida do presidente George Bush à Cúpula das Américas, em Mar del Plata, o conflito EUA-Venezuela certamente voltará à tona. Julia Sweig, diretora do Conselho de Relações Exteriores da América Latina, diz-se preocupada com "a cubanização da política americana em relação à Venezuela", mas lembra que "os dois países estão ligados um ao outro", graças ao comércio e ao petróleo.