Título: Protesto deve reunir 100 mil contra Bush em Mar del Plata
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2005, Nacional, p. A13

"Unidos contra Bush." Esse poderia ser o slogan da miríade de grupos que protestarão hoje contra a presença, na Argentina, do presidente dos EUA, George W. Bush, que, junto com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, será uma das estrelas da 4.ª Cúpula das Américas. O conclave continental, que reúne quase todos os 34 presidentes dos países da Organização dos Estados Americanos (OEA), será realizado no balneário argentino de Mar del Plata. Bush desembarcou ontem nesta cidade, protegido por um esquema de segurança sem precedentes no país. Segundo presidente americano a vir a esta cidade (o primeiro foi Dwight Eisenhower, nos anos 50), Bush será o alvo dos protestos de mais de 500 ONGs - participantes da anticúpula, como é chamada a 3.ª Cúpulas dos Povos - que hoje à tarde marcharão pelas ruas de Mar del Plata.

Os organizadores da manifestação esperam reunir entre 50 mil e 100 mil pessoas. A marcha juntará grupos tão heterogêneos e antagônicos como sindicalistas, representantes de comunidades indígenas, mães de desaparecidos políticos, famílias de soldados americanos mortos no Iraque, estudantes e desempregados.

A anticúpula e o protesto são coordenados pelo Prêmio Nobel da Paz de 1980, o argentino Adolfo Perez Esquivel.

Bush conseguirá, pela primeira vez desde a volta da democracia, unir os grupos de defesa dos direitos humanos das Mães da Praça de Maio, as Mães da Praça de Maio linha fundadora, as Avós da Praça de Maio e os Filhos (dos desaparecidos políticos), que nas últimas duas décadas engalfinharam-se em divergências.

A presença de Bush também servirá para reunir na mesma jornada representantes de povos indígenas de regiões tão diversas como mapuches da Patagônia, guaranis paraguaios e aimaras bolivianos.

O presidente americano também está provocando a união - circunstancial - de setores sindicais tradicionalmente rivais na Argentina e de partidos de esquerda divididos entre socialistas light, trotskistas, maoístas e social-cristãos. Também estarão juntos, a uma distância prudente, simpatizantes nativos de Chávez e militantes de esquerda que criticam o presidente venezuelano.

O amplo leque de manifestantes será completado pela participação do ex-astro do futebol argentino Diego Maradona, transformado recentemente em um furioso militante antiBush, a quem denomina de "assassino". O ex-jogador - que possui no braço direito uma tatuagem com o rosto do líder guerrilheiro Ernesto Che Guevara e outra na panturrilha esquerda com a efígie do líder cubano Fidel Castro - será acompanhado pelo cineasta bósnio Emir Kusturica, que está filmando a vida de El Diez. Maradona chega hoje cedo à cidade, junto com líderes de movimentos populares.