Título: Cresce pressão por demissão de Rove
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2005, Internacional, p. A14

Um ano depois de reeleito, o presidente americano, George W. Bush, enfrenta a pressão de congressistas democratas e de alguns republicanos para demitir o arquiteto de suas duas vitoriosas campanhas eleitorais - de 2000 e 2004 - e seu principal assessor político: Karl Rove. A conveniência de livrar-se ou não de Rove tem sido debatida até mesmo entre seus colegas na Casa Branca, de acordo com o jornal The Washington Post. Para alguns membros da administração Bush, entregar a cabeça do assessor seria uma medida eficiente para conter os danos que a investigação sobre a revelação da identidade de uma agente secreta da CIA, Valerie Plame, vem infligindo ao governo. Em razão do escândalo, uma pesquisa divulgada ontem pela rede de TV CBS mostrou Bush com a mais baixa popularidade de seus dois mandatos - com apenas 35% de aprovação.

Até agora, a investigação do promotor federal Patrick Fitzgerald sobre o vazamento levou ao indiciamento de apenas uma pessoa: o ex-chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney, I. Lewis Scooter Libby. Mas a possibilidade de indiciamento de Rove não está descartada. Na sexta-feira, quando informou que levaria adiante as acusações contra Libby, Fitzgerald ressaltou que o assessor político de Bush continuaria sob investigação.

Na primeira audiência desde que foi indiciado por cinco delitos de obstrução da Justiça, perjúrio e falso testemunho, Libby declarou-se ontem inocente das acusações. O ex-braço direito Cheney prestou depoimento ao juiz federal Reggie Walton, em Washington. Walton leu as acusações contra Libby e pediu que ele respondesse a elas.

Libby, um advogado de 55 anos, declarou: "Com todo respeito, meritíssimo, declaro-me inocente."

A renúncia de Libby, logo depois do anúncio do indiciamento, há uma semana, foi um duro golpe para Cheney, que mantinha com seu chefe de gabinete uma relação de estreita confiança. As acusações contra o assessor podem fazer com que o vice-presidente tenha de comparecer a um tribunal.

"Ao declarar-se inocente, Libby demonstra sua firme intenção de lutar contra todas as acusações", disse o advogado dele, Ted Wells. "Ele deixa claro que pretende manter limpo seu bom nome e não abre mão de ser julgado pelo júri. Não queremos entregar esse caso para o julgamento da imprensa."

A revelação da identidade de agentes secretos da CIA por parte de funcionários públicos é crime federal. Libby e Rove passaram a ocupar o centro das atenções dos investigadores após o depoimento de várias testemunhas.

Mesmo sem o indiciamento do assessor de Bush, líderes democratas intensificaram as chamadas pela sua demissão. A eles se somou o ex-embaixador e marido de Valerie Plame, Joseph Wilson.

De acordo com Wilson, a revelação de que sua mulher trabalhava secretamente para a CIA se deu por vingança contra ele. O ex-embaixador desmentiu publicamente um discurso feito por Bush no Congresso de 2003. No esforço de convencer a população americana da necessidade de invadir o Iraque, Bush afirmara que Saddam Hussein tinha tentado comprar urânio do Níger para seu programa nuclear. Meses antes, Wilson tinha ido ao Níger a serviço da CIA para investigar a suspeita e constatara que a informação não era verdadeira.

A investigação do "plamegate" trouxe novamente à tona as justificativas da administração Bush para a guerra no Iraque. Na terça-feira, numa ação pouco comum na política americana, os democratas convocaram uma sessão a portas fechadas no Senado para debater o tema.