Título: Combate à febre está obsoleto, admite MS
Autor: A. B., Chico Siqueira, João N. e José A. Pedriali
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2005, Economia & Negócios, p. B3

O Estado de Mato Grosso do Sul, onde estão confirmados 21 focos de febre aftosa, reconheceu ontem que falhou na prevenção contra a doença. A crise já levou ao sacrifício de cerca de 2 mil animais e deflagrou o embargo de 49 países, que suspenderam parcial ou totalmente as importações de carne do Brasil. O mea-culpa foi feito pelo diretor-presidente da Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro), João Cavalléro. Cavalléro concordou com a declaração do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, de que teria havido "relaxamento" do País em relação às ameaças de aftosa. O diretor foi além. Segundo ele, o Brasil e o Estado de Mato Grosso do Sul foram incapazes de "modernizar" a estrutura do programa nacional de erradicação da febre aftosa. Cavalléro alega que houve um erro conceitual. "Estávamos numa fase de prevenção e aplicávamos metodologias e mecanismos que utilizávamos na fase de controle."

A estratégia de combate à doença é dividida em três fases: controle, erradicação e prevenção. O Brasil alcançara a última etapa, mas foi, de acordo com o relato de Cavalléro, incapaz de modernizar a estrutura de prevenção. Em Mato Grosso do Sul, a falha mais grave foi a de basear a prevenção em barreiras geográficas e não em barreiras epidemiológicas, o que incluiria os países vizinhos.

Os produtores rurais de Mato Grosso do Sul reagiram positivamente à declaração do ministro. "O governo tem de assumir sua parcela de culpa no problema da sanidade animal", disse Laucídio Coelho, presidente da Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul). "As verbas asseguradas para 2005, cerca de R$ 5 milhões, só chegaram em setembro, quando a doença já estava se espalhando."

Para Edivar Vilela de Queiroz , presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas do Estado de São Paulo (SindFrio), o governo reconhece agora que não soube intensificar as ações de fiscalização contra a doença na divisa com o Paraguai, de onde foram importados os focos do Brasil.

Orlando Pessuti, secretário de agricultura do Paraná, foi mais ameno. "Pode ter havido menos preocupação, porque o Estado não registrava aftosa há mais de 10 anos, mas relaxamento, não."

Segundo Pessuti, a vigilância no Paraná tem sido rigorosa - trabalho atribuído também aos governos anteriores. Na última campanha de vacinação contra a aftosa, em maio, 99% do rebanho bovino do Estado foi vacinado voluntariamente, diz o secretário.