Título: Juros terão forte queda até as eleições
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2005, Economia & Negócios, p. B4

A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda está prevendo que os dois principais referenciais da taxa de juros no País - a taxa de juros de longo prazo (TJLP) e a taxa básica de juros (Selic) - terão quedas expressivas até a véspera das eleições presidenciais do próximo ano. A TJLP, que é a referência para os grandes financiamentos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), deve cair de 9,75% para 9% em janeiro e depois para 8,5% em julho, enquanto a Selic - que hoje está em 19% e influencia o juro bancário - continuaria tendo quedas sucessivas de 0,25 a 0,5 ponto porcentual por mês até maio, quando atingiria 16,5%.

As projeções fazem parte do relatório de atualização dos parâmetros para elaboração do orçamento de 2006, enviado ontem ao Congresso, com data de 31 de outubro. De acordo com o Ministério da Fazenda, esses parâmetros costumam seguir as estimativas do próprio mercado financeiro e não têm a pretensão de influenciar as decisões do Banco Central sobre a taxa Selic, nem do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre a TJLP.

No governo, entretanto, há uma constante polêmica entre aqueles que defendem uma maior velocidade de queda das taxas de juros e os que apregoam mais cautela. No caso da TJLP, por exemplo, o presidente do BNDES, Guido Mantega, pressiona pela queda da taxa desde o início do ano. A SPE já previu que a TJLP cairia ao longo deste ano, gradualmente, mas agora as estimativas da secretaria foram ajustadas para prever uma queda súbita em janeiro.

Com a taxa Selic, as estimativas mudaram pouco. A SPE prevê que no fim do ano ela estará em 18%, em maio de 2006, 16,5%, e em dezembro do ano que vem, 16%. Como a inflação pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) projetada pela SPE para 2006 é de 4,5%, a taxa real de juro ainda seria bastante elevada, de 11,5%.

Para 2005, o Ministério da Fazenda está acompanhando o mercado e projetando um IPCA de 5,31% e um Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) de 1,53%. A menor inflação deverá ter um outro efeito colateral: a redução do valor nominal do Produto Interno Bruto (PIB), que deve fechar o ano em R$ 1,946 trilhão se a economia crescer os 3,4% previstos pelo governo. O PIB é calculado por dois componentes: o crescimento real e um deflator equivalente à inflação.

No caso do câmbio, a persistente valorização do real em relação ao dólar levou a equipe econômica a projetar uma taxa de câmbio de R$ 2,33 para o fim de dezembro. Há um mês e meio, essa estimativa estava em R$ 2,55. Para o fim de 2006, as projeções do dólar foram alteradas de R$ 2,80 para R$ 2,54.