Título: Cinco produtos garantem 80% da expansão das vendas
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2005, Economia & Negócios, p. B6

O comemorado crescimento das exportações brasileiras no mês de outubro foi resultado de uma forte concentração da pauta de produtos. Somente cinco produtos foram responsáveis por 80% do aumento de 12% nas vendas externas do País em outubro, em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo ressaltou Julio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Segundo o executivo do Iedi, caso esses poucos produtos não tivessem apresentado taxa de crescimento, as exportações brasileiras no período teriam aumentado somente cerca de 3%.

Os produtos que mais contribuíram para o crescimento das exportação foram o minério de ferro - que explica 27% da expansão total das exportações em outubro, ante igual mês do ano passado -, a soja (com mais 19%), a gasolina (mais 13%), a carne de frango (10,7%) e os aparelhos de telefones celulares, com a contribuição de mais 9,8%.

Segundo Gomes de Almeida, os dados mostram que "as exportações estão mais dependentes do dinamismo de alguns setores e o câmbio é um dos principais fatores responsáveis por isso".

No acumulado de janeiro a outubro, esses cinco produtos contribuíram com 26% da expansão das exportações no País, ou seja, seu peso na pauta cresceu muito neste quarto trimestre.

MANUFATURADOS

Outro dado preocupante da balança comercial de outubro, segundo Gomes de Almeida, diz respeito à desaceleração do aumento das exportações de produtos manufaturados, que cresceram 4,9% no mês ante igual mês do ano passado, porcentual muito abaixo da expansão de 24,5% no acumulado de janeiro a outubro.

Além disso, a participação dos produtos manufaturados no total das exportações brasileiras diminuiu de 59,6%, no acumulado de janeiro a outubro, para 24,6% em outubro.

"Essa perda pode estar relacionada ao câmbio. Os dados de outubro mostraram que é preciso colocar as barbas de molho em relação ao desempenho dos manufaturados", alertou o executivo.

A perda de participação dos manufaturados, que apresentam maior valor agregado, abriu espaço para os produtos básicos, que tinham contribuído com 24,3% do total das exportações no acumulado de janeiro a outubro, e ampliaram a sua participação para 52,3% em outubro. A participação dos semimanufaturados ficou praticamente estável nesse período.

BENS DE CAPITAL

Outro dado visto como preocupante pelo Iedi é a redução das importações de bens de capital, o que, para Gomes de Almeida, "reflete uma oscilação muito forte" nos investimentos.

De acordo com as contas do instituto, as importações de bens de capital, com ajuste sazonal, caíram 6% em outubro ante setembro, depois de uma queda de 2% em setembro ante agosto. Em agosto ante julho, foi registrado aumento de 17%.

"É cedo para dizer que o investimento esteja caindo no quarto trimestre, mas a indicação dos bens de capital não é boa", avalia Almeida, acrescentando que os dados podem indicar um "esfriamento da economia".

Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as importações de bens de capital em 2005, que deverão atingir US$ 15 bilhões, serão bem inferiores às registradas, por exemplo, em 1997 (US$ 16,7 bilhões) e 1998 (US$ 16,1 bilhões). "Achávamos que as importações de bens de capital seriam muito maiores em 2005, por causa do câmbio favorável e do crescimento do PIB", disse ele.