Título: Furacões podem pressionar a inflação, alerta Greenspan
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2005, Economia & Negócios, p. B7

Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), disse que os efeitos dos furacões que assolaram o Golfo do México poderão afetar a produção e o mercado de trabalho a curto prazo, além de aumentarem a pressão inflacionária. Mesmo assim, os fundamentos econômicos dos Estados Unidos continuam sólidos e a economia parece manter um forte ímpeto. Em depoimento à Comissão Econômica Conjunta do Congresso, Greenspan insistiu em que o Fed está acompanhando de perto a alta dos preços da energia, para conter um eventual surto inflacionário. E alertou que os EUA deveriam aumentar seu estoque de gás natural, embora o nível atual seja adequado. "Se tivermos um inverno mais frio do que o habitual, os preços do gás estarão sujeitos a altas repentinas até a primavera", afirmou, acrescentando: "Os consumidores ficarão muito surpresos com as contas de combustível para calefação neste inverno."

Segundo Greenspan, os gastos com a reconstrução das cidades atingidas pelos furacões Katrina, Rita e Wilma deverão impulsionar a expansão do Produto Interno Bruto durante algum tempo. "Mas a perspectiva inflacionária traz mais incertezas", completou. Na semana passada, o Fed aumentou o juro básico em 0,25 ponto porcentual pela 12ª vez consecutiva, para 4% ao ano, a taxa mais alta desde 2001. O objetivo era conter o potencial inflacionário. Os analistas acreditam que até este mês e em dezembro haverá novas altas, sempre de 0,25 ponto porcentual. No depoimento de ontem, Greenspan não mencionou a política monetária.

O presidente do Federal Reserve alertou os legisladores para tomarem medidas contra a expansão do déficit orçamentário americano, mas admitiu que isso será difícil a curto prazo por causa dos bilhões de dólares que serão gastos na reconstrução das áreas assoladas pelos furacões. Greenspan disse que com a alta dos custos com aposentadorias e assistência médica, à medida que a população fica mais velha, tais déficits "poderiam chegar a um nível insustentável", levando à alta do juro e à elevação do custo da dívida interna. "A menos que a situação seja revertida, num certo momento esse déficit causará uma grave ruptura econômica", advertiu.

DESPEDIDA

Greenspan, de 79 anos, deixará o cargo em janeiro, depois de comandar por 18 anos a política monetária dos EUA. O de ontem provavelmente foi seu último depoimento ao Congresso como presidente do Fed. O presidente da comissão conjunta, Jim Saxton, elogiou seu trabalho: "O sr. comandou a política monetária em meio a crises financeiras, guerras, terrorismo e desastres naturais. O sr. deu uma grande contribuição para a prosperidade dos Estados Unidos."

Embora a sua capacidade de administrar crises seja reconhecida, muitos congressistas criticam o hermetismo de suas decisões - que deram certo, na grande maioria dos casos .