Título: Maranhão, urgente!
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2005, Notas e Informações, p. A3

Se há uma demonstração dolorosa dos efeitos de uma oligarquia retrógrada, imposta por mais de três décadas a uma região, este é o caso do Maranhão, o "campeão nacional da miséria", que concentra em seu território os piores índices do País em praticamente todas as áreas sociais e econômicas. Só para ilustrar, eis alguns dados: o Maranhão tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil (0,636), a menor renda per capita (R$ 1.949/ano), 83 dos 100 municípios mais pobres do País, o maior índice de excluídos socialmente, a menor porcentagem de população atendida pelos serviços de saneamento básico e coleta de lixo, a maior taxa de mortalidade infantil, a menor expectativa de vida e o maior contingente populacional vivendo na miséria absoluta. Esses dados impressionantes estão citados em artigo do governador maranhense, José Reinaldo Tavares, publicado na página A2 do Estado de quarta-feira. José Sarney se elegeu governador do Maranhão em 1965 e, depois dele, governaram o Estado apenas seus correligionários, agregados ou amigos chegados - ainda que alguns tivessem com ele rompido após a própria investidura. Eis a seqüência: Pedro Neiva de Santana, João Castelo Ribeiro Gonçalves, Oswaldo Nunes Freyre, Luis Rocha, Epitácio Cafeteira, João Alberto, Edison Lobão, Roseana Sarney (filha). Seguramente não há outro exemplo, em qualquer época ou lugar do Brasil, de tamanha força oligárquica seqüencial e ausência de alternância no Poder. Mas o atual governador - um dos que romperam com a oligarquia - também expôs, no mencionado artigo, todo o esforço que empreende para administrar uma pesada dívida e reverter situações calamitosas deixadas por administrações anteriores, apesar de todo o rico potencial da terra maranhense, que - como ele escreve em seu artigo - possui 11 bacias hidrográficas, o segundo maior litoral, o segundo maior terminal portuário, o segundo maior rebanho do Nordeste, excelentes recursos naturais como pólo de atração turística, assim como de produção industrial e agropecuária.

Ocorre que o Maranhão tem uma grande oportunidade de melhorar o quadro sombrio da miséria e está na iminência de perdê-la, como denuncia seu governador. O governo maranhense obteve um empréstimo, no valor de US$ 30 milhões, com contrapartida de US$ 10 milhões do Estado, do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), já aprovado pelo governo federal, para financiamento do Programa de Desenvolvimento Integrado do Maranhão, que beneficiará diretamente 400 mil maranhenses, que vivem abaixo da linha de pobreza nos 80 municípios mais pobres do Estado, com escolas, eletrificação rural, poços artesianos, creches, estradas, água tratada, saneamento básico e melhoria da produção agrícola. Mas o projeto de aprovação do empréstimo do Bird está parado no Senado Federal desde 2004 - época em que essa casa legislativa era presidida pelo senador maranhense, eleito pelo Amapá, José Sarney. Se não for aprovado até o dia 18 do corrente mês, perderá a validade.

Será que o influente ex-presidente da República, do Congresso e atual senador, tão ligado à terra maranhense - a ponto de nela erigir, por antecipação, seu portentoso mausoléu -, que dispõe de bancada própria, não se sensibilizaria com essa oportunidade de diminuir um pouco a miséria de seus coestaduanos? Ou será que brigas ou animosidades de qualquer gênero entre o governador Tavares e sua filha Roseana podem prejudicar o interesse coletivo, justamente quando é possível o resgate, mesmo parcial, de imensa dívida social - como ocorre no Maranhão? Em sã consciência, é difícil acreditar que o senador Sarney padeça desse tipo de insensibilidade, que resultaria em um verdadeiro boicote aos interesses da gente tão sofrida de sua terra.

Mas a verdade é que todos os esforços do governador José Reinaldo Tavares para conseguir a aprovação do empréstimo do Bird foram, até agora, inúteis, graças aos esforços em sentido contrário do senador Sarney, seu ex-amigo e hoje inimigo a ponto de pôr a obsessão de prejudicá-lo acima do interesse das populações miseráveis do seu Maranhão. Mas o mais incrível é que o Senado sirva de instrumento da mesquinharia vingativa do seu ex-presidente.