Título: Oposição age para levar ministro à CPI
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2005, Nacional, p. A4

O acúmulo de denúncias contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, levou a oposição a mudar de atitude. Parlamentares do PSDB e do PFL pararam de poupá-lo e passaram a tratá-lo como arrecadador da campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora sua função formal em 2002 tenha sido de coordenador do programa de governo petista. "Estamos verificando que, antes de chegar ao Ministério da Fazenda, o doutor Antonio Palocci foi prefeito de Ribeirão Preto e coordenou a campanha do presidente Lula. Fez as grandes articulações", atacou o senador César Borges (PFL-BA). "A dedução a que se chega hoje é de que efetivamente não foi o Delúbio (Soares, ex-tesoureiro do PT) quem planejou todos os recursos que sustentaram a candidatura de Lula. Havia alguém que pensava melhor e com mais responsabilidade."

Para ele, há um esquema no Congresso para proteger Palocci e seus familiares. Borges afirmou que a CPI dos Correios não conseguiu aprovar a convocação do irmão do ministro, Ademar Palocci, diretor da Eletronorte. "É um homem (Ademar) que estava envolvido em financiamento de caixa 2, na eleição de Goiás, de Goiânia, do PT."

O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) deu início a uma ofensiva para pressionar os colegas a exigir a convocação de Palocci pela CPI dos Bingos. Em discurso da tribuna, afirmou que se Palocci fosse ministro da Fazenda de outro país já teria sido demitido por conta das denúncias. Para o tucano, está claro o envolvimento dele em esquema de arrecadação para o caixa 2 do PT.

"Em países onde a democracia é robusta, ele não ficaria com essas suspeitas que pesam sobre ele. Se ele quer ficar, que fique, porque este governo não gosta de demitir ninguém." O senador disse que Palocci precisa parar de "chantagear" o governo e o Congresso e exigir que não seja convocado pela CPI.

"O ministro Palocci ameaça deixar o governo se o Congresso insistir em convocá-lo para falar sobre as suspeitas de seu envolvimento em casos de corrupção. O ministro, segundo registram os jornais de hoje, não aceita ser convocado pela CPI dos Bingos e pressiona o governo para que trabalhe para evitar essa convocação", reclamou Antero. Para ele, Palocci está "criando crises artificiais e usando o mercado financeiro para se sustentar no governo".

Até o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), aliado do governo, disse que o ministro deve respostas à sociedade e precisa ir ao Congresso o "mais rápido possível" dar explicações sobre as denúncias contra seus ex-auxiliares. "Palocci precisa vir. Não pode haver dúvidas sobre o ministro da Fazenda. Ele precisa esclarecer."

Renan avalia que há tanta ansiedade entre os senadores para ouvir as explicações do ministro da Fazenda que o plenário da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) pode ficar pequeno. Por isso, pôs o plenário do Senado à disposição do ministro. Segundo ele, Palocci deve seguir o exemplo de Pedro Malan, ministro da Fazenda no governo Fernando Henrique, e falar no plenário. "Malan e outros vieram aqui. O próprio vice-presidente José Alencar já veio. Palocci precisa vir."