Título: Ministra diz a Bernardo que está sentida 'com tudo isto'
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2005, Nacional, p. A5

A ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, procurou o colega do Planejamento, Paulo Bernardo, para explicar o tom agressivo de suas críticas. Ela qualificou a política de Bernardo de "rudimentar". Em encontro rápido com o ministro, Dilma revelou que está "sentida com tudo isto", referindo-se ao adjetivo que ela própria usara em sua entrevista ao Estado. "Achei ruim mesmo.... Precisamos conversar", respondeu o ministro do Planejamento, sem dar prosseguimento ao assunto. Um petista com trânsito no Congresso, que acompanha cada lance da rusga entre os dois ministros do partido, diz que não foi por acaso que Paulo Bernardo se recusou a responder à ministra.

Segundo este parlamentar, o alvo de Dilma na verdade não era o ministro do Planejamento, mas Antonio Palocci, da Fazenda, principal alvo das denúncias neste momento. Por isto, Bernardo não teria tirado satisfação com a companheira de ministério nem tampouco ficara ressentido com ela. A quem o procurou para falar do assunto, o ministro disse apenas que Dilma fora infeliz em suas colocações. "A gente briga muito, mas é briga de amor", brincou ele ontem.

Bem humorado, Bernardo é defensor da tese de que o governo pode compatibilizar uma política fiscal austera com um maior grau de execução orçamentária e um maior atendimento às demandas do Congresso.

O ministro faz questão de lembrar que continua sendo deputado e, por isto mesmo, tem a percepção de toda a pressão por verbas que está ocorrendo no Congresso. Afinal, raciocina, os parlamentares, os prefeitos e os governadores têm que dar uma resposta à população e 2006 é ano de eleição, quando todos serão cobrados nas urnas.

RACIONAL

Bernardo nega qualquer insinuação de que ele e Palocci não estejam preocupados com investimentos. E insiste em que investimento e política fiscal austera não são incompatíveis e o governo tem condições de zelar pela boa qualidade do gasto público ao mesmo tempo que atende a demandas políticas. "Temos como gastar com qualidade sem ser na base da gastança, mas estressar é a melhor forma de não conseguir fazer um gasto racional", defendeu o ministro.

"Já demos ordem aos ministérios para que executem todas as emendas individuais dos parlamentares e o Congresso está percebendo este movimento", disse. A despeito da gritaria de deputados e senadores por conta da falta de verbas para obras em suas bases, ele afirma que o governo deu ordem para liberar cerca de R$ 1,5 bilhão do total de R$ 1,8 bilhão de emendas individuais.