Título: Alencar apóia crítica de Dilma à Fazenda
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2005, Nacional, p. A5

Em meio ao esforço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reduzir a pressão contra a política econômica, o vice José Alencar criticou duramente o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, defendendo a posição da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que cobra a abertura da torneira dos investimentos. "Por força de minha experiência de vida, dou razão à ministra Dilma Rousseff, porque tenho dito que o regime de juros no Brasil, especialmente no que diz respeito à taxa básica, à taxa Selic, do ponto de vista real, é a mais alta do mundo, é 10 vezes a taxa média de 40 países", disse. "O ministro Palocci está errado e tem de mudar de idéia. Esta política entrava o nosso desenvolvimento e está matando a economia." Alencar, ferrenho defensor da drástica redução das taxas de juros, afirmou, no entanto, que "não há desentendimento" entre os ministros. "O que há é que este é um governo democrático e o presidente Lula faz questão absoluta de que todos nós, ministros, tenhamos o direito de expressar o que pensamos sobre qualquer assunto."

Ao ser questionado se Palocci deveria, então, deixar o governo, já que considera a sua política errada, Alencar declarou: "Ele pode mudar de idéia porque tem qualidades excepcionais, porque é um homem de bem." Diante da insistência da imprensa sobre se a saída do ministro Palocci mudaria alguma coisa na política de juros e de superávit, respondeu: "Não é a saída de Palocci. Nós temos é de convencer o Palocci de que os outros países todos estão certos e ele está errado. Se ele estivesse certo, seria o mesmo que considerar que o Brasil, entre 40 países do mundo, é o único certo." Ele exemplificou que a taxa de juros real da Colômbia, por exemplo é de 1,5%. A nossa é de 13,5%.

IRRESPONSABILIDADE

Ainda segundo ele, Lula está convencido de que as altas taxas de juros são necessárias para evitar o recrudescimento da inflação mas, na avaliação do vice, esta política está "matando a economia".

As declarações de Alencar foram dadas após participar de cerimônia de apoio ao esporte militar, no Ministério da Defesa, na qual foi condecorado. Questionado se além de concordar com a ministra em relação às altas taxas de juros, concordava também com ela que não é possível aumentar o superávit acima dos 4,25%, respondeu: "No momento em que você trouxer as taxas de juros para patamar internacional, você pode reduzir o superávit porque, ao contrário, nem precisará de superávit."

Depois de apresentar inúmeros argumentos para provar que é "inócua" a manutenção desta taxa de juros com o argumento de que ela ajudar a combater a inflação, o vice-presidente comentou: "Falamos, por exemplo, que temos responsabilidade fiscal. Não é verdade. Na prática, estamos sendo irresponsáveis do ponto de vista fiscal porque o orçamento é altamente deficitário apesar do elevado patamar do superávit primário."