Título: Na entrevista, Poleto admite que transportou dinheiro
Autor: Fábio Graner e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2005, Nacional, p. A6

REVISTA VEJA - Hoje é madrugada de sábado. Estou aqui com Vladimir Poleto. Vladimir, você transportou dinheiro para o PT na campanha de 2002? WLADIMIR POLETO - Não, absolutamente não. Veja - Mas há o episódio em que você - a gente já apurou - em que você trouxe de Brasília para São Paulo caixas supostamente contendo bebidas e que havia dinheiro... Poleto - Que eu saiba, não. Veja - O que vc sabe? Poleto - A única coisa que eu sei é que peguei um avião de Brasília com destino a São Paulo com três caixas de bebida. Veja - Depois que você fez esse transporte você... Foi informado do que efetivamente tinha dentro destas caixas... Poleto - Depois de todo o acontecimento, sim. Veja - E o que tinha dentro dessas caixas, segundo te disseram? Poleto - Uma coisa é o que me dizem outra coisa é a realidade... Veja - E o que te disseram? Poleto - Que tinha dinheiro numa das caixas. Só isso. Veja - Quem disse isso? P oleto - Ralf Barquete. Veja - Como você se sentiu sendo usado para fazer esse transporte? Poleto - Um absurdo. Estive em Brasília para resolver problemas ligados diretamente, não só à minha questão pessoal, mas a outros encaminhamentos, alguns processos de enchentes, no ministério responsável e vim saber depois que acabei transportando alguns pacotes e num deles havia dinheiro. Só isso! Veja - Você se sentiu usado? Poleto - Lógico. Evidente. Isso é um descalabro! Veja - Quanto tempo depois do episódio você ficou sabendo disso, que era dinheiro ao invés de bebida. Poleto - Depois que eu ganhei uma garrafinha de Havana Club, que me foi presenteado, me falaram. Só isso! Veja - Qual o valor que foi falado? Poleto - É... Veja - Segundo a informação que eu tenho, o valor transportado teria sido 3 milhões de dólares. Poleto - Não. O valor que me disseram era 1 milhão e 400 mil dólares. Veja - Vindo de Cuba? Poleto - Não sei de onde. A origem não sei, apenas que acabei transportando num ato de minha infantilidade. Só isso! Veja - Você fez um favor? Poleto - Exato. Veja - A pedido de um amigo. Poleto - Exato. Veja - Que não te disse o que era... Poleto - Disse que eu tinha que trazer três caixas de bebidas. Só isso! Veja - Você correu risco de vida? Poleto - Não. O que aconteceu foi que peguei tempestade! A partir do momento que saí de Brasília bateu uma tempestade. Meu destino era São Paulo e bateu tempestade de Campinas até São Paulo. O piloto teve de mudar a proa para Poços de Caldas e depois certificou-se que talvez não tivesse combustível para chegar a São Paulo e eu pedi pra ele arrumar uma alternativa. Ele disse que tinha de pousar ou em Poços ou em Campinas. Eu optei que pousássemos em Viracopos. Veja - O que aconteceu quando vocês pousaram em Viracopos? Poleto - Viracopos? O avião pousou e eu... imediatamente me retirei do avião e disse que jamais entraria naquele avião, pelas penúrias e problemas que passei. E, a partir do momento que o Ralf chegou no aeroporto, pedi que ele assumisse o avião e junto com o piloto tomasse os destino necessários. A partir dali, voltei para a minha terra natal. Veja - Com relação à mercadoria, você disse que ela foi transportada em um carro blindado. Poleto - Eu não vi. Eu fiquei em Viracopos. O avião pousou em Viracopos e tinha um tempo hábil, já que ali não tinha o combustível para aquele avião, tinha de ser em outro aeroporto ali pertinho, então teve de decolar outra vez e fazer pouso nas proximidades. E o Ralf estava dentro desse vôo. E o Ralf tomou as ações daí para frente, com relação aos produtos que estavam dentro do avião. Veja - Você me disse no início da entrevista que esta história poderia comprometer muito, inclusive derrubar o governo. Por quê? Poleto - Eu? Não. Eu fiquei sabendo da história depois e fiquei muito preocupado. Só isso! Veja - Você acha que foi um inocente útil? Poleto - Evidente. É uma realidade. Veja - Você tem a consciência absolutamente limpa de que não participou de maneira efetiva desse transporte de dinheiro, sabendo o que estava fazendo... Poleto - Lógico, imagina... Jamais iria pegar um vôozinho com um milhão de dólares dentro de um avião e transportar. Isso não é da minha índole. Veja - Você se arrepende disso? Poleto - Olha, costumeiramente eu não viro as costas para os amigos. É da minha índole. A partir do momento que um amigo me pede "Vladimir traga", eu.... Qual o problema se não levar? Veja - De quem era o avião? Poleto - Não sei. Veja - Era um Seneca? Poleto - Um Seneca. Um Seneca para quatro lugares. Veja - Você me disse que três lugares estavam ocupados com as caixas. Poleto - Exato e mais o meu. Veja - Como você descreveria estas caixas. Como elas eram? Poleto - Uma caixa escrita Red Label, a outra Black Label, a outra Havana Club. Todas do mesmo tamanho, mesma textura... Idênticas... Só mudando o nome. Veja - Você imaginou que tinha bebida dentro? Poleto - É lógico. Conheço muito Black Label, Red Label, mas não conhecia o Havana Club. Mas aí o meu amigo Ralf Barquete me trouxe uma garrafa de Havana e presenteou-me. Disse: Vladimir, aqui tem um Havana Club pra ti. Veja - Aí ele te contou a história. Poleto - Exato. Veja - Isso muito tempo depois? Poleto - Uma semana depois, por aí. Veja - Isso aconteceu em setembro de 2002? Poleto - Não me recordo. Eu sei que foi em 2002... Veja - Durante a campanha? Poleto - Durante a campanha.