Título: Poleto é desmentido na CPI sobre dinheiro de Cuba
Autor: Fábio Graner e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2005, Nacional, p. A6

Um depoimento desastroso do economista Vladimir Poleto, ontem, na CPI dos Bingos, foi prontamente desmentido pela exibição da fita gravada de sua entrevista à revista Veja e complicou a situação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de quem ele foi assessor na prefeitura de Ribeirão Preto.

Depois de negar por quase duas horas as afirmações que a revista lhe atribuiu - descrevendo o vôo de Brasília a Campinas, no qual teria transportado dinheiro de Cuba para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002 - Poleto foi desmentido por sua própria voz e enfrentou senadores irados, que o acusaram de mentiroso. Protegido por um habeas-corpus do Supremo Tribunal Federal (STF), o economista não podia ser preso, ao ser flagrado em mentira à CPI, mas vários senadores pediram o seu imediato indiciamento.

No começo, senadores do PT tentaram defendê-lo, mas depois, diante das evidências, o deixaram entregue à própria sorte. A partir daí, ele foi massacrado pela oposição.

No início do depoimento, Poleto afirmou não se lembrar direito da conversa com o repórter. "Após tanto chope, sendo que eu havia começado a beber à tarde aquela cachacinha, minha capacidade de discernimento estava comprometida. Não me recordo se fiz declarações. E, se fiz, são falsas, inverídicas, fruto de coação e constrangimento, fruto do excesso de álcool", disse.

NO AR

Em resposta, Veja pôs logo depois à disposição, no site da revista, o áudio da entrevista. Ao tomar conhecimento da iniciativa, os parlamentares pediram que o áudio fosse reproduzido no plenário. Poleto teve de ouvir, constrangido, o desmentido de tudo que afirmara minutos antes.

A reprodução do áudio mostrou que a voz de Poleto era serena e equilibrada, e não sugeria que ele houvesse bebido. Na conversa, ele diz ao jornalista Policarpo Junior exatamente o que a revista publicou: que, em 31 de julho de 2002, transportou, de Brasília para Campinas, num bimotor Sêneca, três caixas de bebida, a pedido de um amigo não nomeado.

O senador Demóstenes Torres (PFL-GO), que é promotor, rejeitou a desculpa do excesso de bebida. "Trata-se de embriaguez voluntária. Nem o jornalista abriu sua boca e o obrigou a beber nem vossa senhoria caiu em um tonel de cachaça."

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) tentou sugerir que a gravação da conversa não teria sido autorizada por Poleto, mas a tese logo caiu: no começo, o jornalista faz um cabeçalho como se fosse mesmo referência do início de uma gravação. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), irritadíssimo, pediu o imediato indiciamento de Poleto. "Não tenho mais o que perguntar nem o que ouvir", resumiu.

O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) também atacou Poleto e disse que a CPI tinha passado dos limites; Magno Malta (PL-ES) sugeriu que a CPI pedisse ao STF que revogasse o habeas-corpus, para que Poleto saísse preso da sessão.

Poleto negou que tivesse recebido as caixas do diplomata cubano Sergio Cervantes. Disse que Barquete o orientou a pegar as três caixas em um edifício na Asa Sul, onde elas lhe teriam sido entregues por um porteiro "que falava português perfeitamente".