Título: Ex-assessor só não foi preso porque tinha habeas-corpus
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2005, Nacional, p. A7

Depois da série de contradições do depoimento de Vladimir Poleto ontem, os senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos aprovaram dois requerimentos, em que solicitam ao Ministério Público e à Polícia Federal o indiciamento e a prisão preventiva do economista, por falso testemunho. Ex-assessor do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, Poleto só escapou de ser preso em flagrante durante seu depoimento à comissão porque estava protegido por um habeas-corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). "Mentir à CPI é crime", disse o senador Magno Malta (PL-ES), que, com outros senadores, preparou o requerimento de prisão preventiva do ex-assessor. O senador petista Eduardo Suplicy (SP) votou a favor do pedido de indiciamento, mas se absteve sobre o de prisão. Suplicy disse que o primeiro requerimento já era suficiente.

SILÊNCIO

Em dois momentos, Poleto usou o direito, garantido pelo habeas-corpus, de não responder a perguntas dos senadores. Primeiro, quando foi indagado, pelo pefelista Demóstenes Torres (GO), se promovia festas na casa que alugou no Lago Sul, em Brasília, em 2003. Poleto apenas confirmou que pagou R$ 60 mil em dinheiro vivo pelo aluguel por temporada do imóvel. Disse que a casa servia "para fazer negócios de maneira diferenciada".

Já no fim de seu depoimento, Poleto recusou-se a informar o nome de sua mulher. Prometeu encaminhar essa informação por escrito à CPI dos Bingos.

Inquirido pelo senador Demóstenes Torres mais uma vez, Poleto disse que pagou R$ 5 mil em dinheiro vivo ao escritório de advocacia que contratou para defendê-lo no caso. O advogado Cristiano Ávila Maronna foi várias vezes advertido pelos senadores de que não podia "soprar" as respostas no ouvido de seu cliente. "O senhor não pode ficar de cochicho com o cliente. Vá estudar o regimento das CPIs antes de vir para cá", reagiu irritado o senador Magno Malta.

SEM MEMÓRIA

Apesar de todo o constrangimento por que passou ao ser desmentido diante de todos os integrantes da CPI, o ex-assessor de Palocci sustentou até o fim a versão de que não se lembrava de ter concedido a entrevista gravada e exibida na comissão.

"De onde apareceu essa história de que os dólares vinham de Cuba?", perguntou a Poleto o senador petista Siba Machado (AC). "Boa pergunta. Não foi da minha pessoa. Se eu fiz essa declaração, não me recordo", repetiu o ex-assessor. Da irritação, os senadores passaram à ironia.

VOZ DIFERENTE

Depois de ouvir a gravação de uma conversa sua com o advogado Rogério Buratti, Poleto disse que era sua voz, mas estava meio diferente.

"Vossa senhoria tinha bebido nesse dia também?", provocou Heráclito Fortes (PFL-PI). "Não, acho que não", respondeu o economista.