Título: Mercadante e Bernardo são cotados para Fazenda
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ainda é dono da cadeira mais importante da Esplanada dos Ministérios. Mas a bolsa de apostas sobre quem será seu sucessor está a toda. Assessores do Planalto indicam que, na eventualidade de a situação de Palocci se tornar insustentável, a solução será interna, sairá do PT. Dois nomes são os mais cotados. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e o ministro Planejamento, Paulo Bernardo. Nessa mesma avaliação, o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal, não teria chance de substituir o chefe. ¿Pesa contra ele o fato de não ser do PT e ter sido do governo FHC. Um ministro que é do PSDB seria triturado pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil)¿, explicou um assessor do Planalto.

Quanto a Mercadante, a avaliação é que é um quadro do PT e pode ser convencido a trocar a candidatura ao governo de São Paulo pela possibilidade de ser o candidato do PT em 2010.

No coração do poder, a ponderação é que dificilmente Palocci terá condições de se manter no comando da economia, como desejaria o presidente Lula. Há sintomas desse desgaste até dentro da Fazenda.

DEBANDADA

Assessores percebem que a situação política do chefe se deteriorou e preparam o desembarque. Ainda não há limpeza geral de gavetas, mas já começam a se mexer. No Planalto, os rumores acenderam um alerta e Lula assumiu o comando da operação para manter a turma de Palocci. Por telefone, chegou a pedir que o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, que tem como certa a indicação para uma gerência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), permaneça no cargo até o fim do ano. Levy ficou de pensar.

Oficialmente, todos os assessores continuam em seus postos. Mas muitos já são sondados por outros órgãos do governo. O secretário de Assuntos Internacionais, Luiz Awasu Pereira, está a caminho do Banco Mundial. Nem o assessor de imprensa, Marcelo Netto, escapa. Segundo amigos, planeja viagem de 6 meses ao redor do mundo.

¿Vamos evitar esses rumores. Levy disse que vai analisar o convite do Luiz Alberto Moreno (presidente do BID) e o presidente pediu que ele continue no cargo¿, disse um influente assessor do Planalto. Ele foi testemunha da conversa em que Palocci disse a Lula que estava cansado dos ataques da CPI dos Bingos e das críticas de Dilma. ¿Palocci tem de ficar e ser protegido. Não haverá mudança nos cargos nem na política econômica¿, insistiu o assessor.

Mas a decisão de ficar ou sair é só do ministro. Ele tem repetido a amigos e colaboradores que está cansado dos ataques. Ao contrário dos ministros da área social, Palocci sabe que o comandante da economia só se mantêm se estiver forte. E já avisou a Lula que os agentes econômicos são volúveis. ¿Se perceberem que perdeu credibilidade, ele não tem como se sustentar no cargo¿, explica um assessor.

MEIRELLES

Além dos abalos no ministério, outro, ainda latente, pode levar a uma confusão ainda maior. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não se sentiria confortável de ficar no governo se Palocci saísse. O desconforto seria maior ainda se a substituição levasse a uma mudança da atual política do governo ¿ hipótese que vem sendo negada pelos assessores de Lula.