Título: 'Não vou permitir que se brinque com a economia', avisa Lula
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2005, Nacional, p. A4

Numa operação planejada para tentar segurar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai entrar em campo para defendê-lo. Lula pretende aproveitar os discursos públicos para bater na tecla das "realizações" da economia capitaneada por Palocci e dizer que seu governo está sendo atacado porque a oposição decidiu antecipar o calendário eleitoral de 2006. "Eu não vou permitir que se brinque com a economia", avisou.

Um ministro afirmou ao Estado que o presidente vai "reagir duramente" aos ataques a Palocci, se o bombardeio continuar implacável. Lula está amargurado e "no limite da paciência", como definiu um de seus interlocutores. O argumento que justificará a sua intervenção na tentativa desesperada de preservar Palocci é o de que não se pode contaminar a economia com a crise política.

Embora a retórica oficial seja de que "Palocci fica", a permanência do ministro no cargo vai depender dos desdobramentos das investigações contra ele. Sob fogo cruzado da CPI dos Bingos, onde enfrenta denúncias de corrupção, de integrantes do próprio governo - como a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff -, que pressionam para aumento dos gastos públicos - , do PT e do Ministério Público, o titular da Fazenda vive situação bastante complicada, considerada por muitos como insustentável.

"Se eu pudesse, dividiria o Palocci ao meio: o bom ministro da Fazenda e o prefeito de Ribeirão Preto com problemas na arrecadação de recursos", provocou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM)."Ao contrário das teses da oposição, que dizia que o Brasil viraria uma Argentina com a vitória de Lula, a gestão econômica do governo é um êxito. A forma que a oposição tem de descontruir esse êxito é atacar Palocci, mas espero que ela tenha responsabilidade com o País e não jogue no quanto pior, melhor", retrucou o líder do governo no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP), pré-candidato ao governo de São Paulo, que nega ter sido sondado para a Fazenda.

Carimbar Palocci como arrecadador da campanha de Lula é o objetivo da oposição, que deixa o Planalto em polvorosa. Nos últimos dias, Lula disse que lutará para reagir à crise e unir o seu governo. Além de irritado com a oposição, o presidente também está muito contrariado com a base aliada. Motivo: não se conforma com o fato de o Planalto ter fracassado na tentativa de derrubar o adiamento da CPI dos Correios até abril de 2006.

"Eu vi vários deputados que têm cargos no governo e assinaram o pedido de prorrogação da CPI", reclamou Lula para um petista que conversou com ele na sexta-feira. "Como pode isso?"

Apesar das promessas de liberar emendas parlamentares, o governo foi derrotado porque nem todos os integrantes de partidos aliados, como PMDB, PL, PP, PTB e PSB, retiraram suas assinaturas do requerimento que pedia a prorrogação das investigações.

"A maior marca desse momento é a escassez de conciliadores", resumiu o deputado Paulo Delgado (PT-MG). Presidente da Comissão de Educação da Câmara, Delgado avalia que Dilma tem razão quando diz que é preciso reduzir o superávit primário. "Arrecadar e contingenciar são práticas que tiram a participação do Congresso na política", queixou-se. "A defesa da política econômica é consenso, mas até a virtude precisa de limites", completou o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda (PT)."