Título: CPI quer saber sobre negócios com Angola
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2005, Nacional, p. A5

Ficou mais complicada a situação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na CPI dos Bingos, com a decisão do PFL de convocar para dar depoimento seus dois amigos empresários, suspeitos de terem sido favorecidos em Angola com linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A comissão vai investigar se o nome deles já estava carimbado quando, em 2003, o presidente Lula prometeu, em viagens a Angola e a outros países africanos, abrir linhas de crédito do banco para brasileiros investirem naquele continente.

Ambos estão envolvidos em denúncias que já estão sendo investigadas pela CPI: José Roberto Colnaghi, dono do avião Sêneca que teria transportado, em 2002, de Brasília para Campinas, dólares vindos de Cuba para a campanha de Lula à Presidência, e Roberto Carlos Kurzweil que, além de ser o dono do carro que teria transportado o dinheiro para São Paulo, aparece ainda como sendo o intermediador de donos de bingos que ofereceram a Palocci a doação de R$ 1 milhão, em troca da futura legalização da atividade.

A denúncia é a primeira que traz para o centro da crise a gestão de Palocci à frente do Ministério da Fazenda, e não quando era prefeito. Reportagem publicada ontem pelo Estado mostra suposto tráfico de influência dos ex-assessores de Palocci, Rogério Buratti e Vladimir Poleto, com esses empresários.

PRIMEIRA VEZ

O líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), lembra que a denúncia atinge pela primeira vez Palocci no cargo de ministro e não mais como prefeito de Ribeirão Preto ou como coordenador do programa de governo de Lula. "Não há dúvida de que o quadro é cada vez mais difícil para o ministro", diz o pefelista.

O líder destaca o fato de Palocci ter mudado seu comportamento, deixando de ser "loquaz e esclarecedor para se esconder da imprensa, numa atitude de mutismo". "A atualidade e a gravidade da acusação mostram o porquê de seu comportamento arredio", sintetiza. Agripino conta que o partido pedirá esta semana a convocação de Colnaghi e Kurzweil.

Quando depuseram na quinta-feira, Buratti e Poleto foram questionados pelo relator da CPI, Garibaldi Alves (PMDB-RN), sobre os investimentos desses empresários em Angola e sobre a ligação do ministro com o Banco Prosper. Eles foram evasivos, mas, segundo Garibaldi, não conseguiram derrubar as suspeitas de envolvimento do ministro num esquema de tráfico de influência intermediado por seus ex-assessores.

BOLSO

Na quarta-feira, a CPI dos Bingos retomará os depoimentos. Vai ouvir o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, sobre o fato de ele ter declarado, sem apresentar documentos, que tirou do próprio bolso R$ 29,4 mil para pagar ao PT uma dívida do presidente Lula.

Titular de um dos cargos mais cobiçados do governo, com salário de R$ 20 mil, Okamotto é amigo do presidente. Ele foi tesoureiro do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC quando Lula presidiu a entidade.

No mesmo dia, os senadores da CPI vão ouvir Afrânio Nabuco, que aparece como lobista no documento da multinacional Gtech chamado de "Mapa da Agenda Política". Nabuco teria sido contratado para intermediar um encontro de dirigentes da empresa com o atual presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso.

Como encarregado da CPI dos Bingos, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) acompanha hoje o depoimento de 11 presos. Sete deles são acusados de terem participado de alguma forma na execução do prefeito do PT de Santo André Celso Daniel em 2002. O Departamento de Homicídios da polícia de São Paulo concluiu que Daniel foi vítima de crime comum. O Ministério Público sustenta que o prefeito foi assassinado por ordem de "organização criminosa estável" que teria tomado conta de setores de sua administração.

Os outros quatro presos teriam ouvido dos acusados pela morte de Daniel, em conversas na carceragem, informações que incriminariam como mandantes do crime os empresários Sérgio Gomes, o Sombra, e Ronan Maria Pinto, além do ex-secretário municipal de Governo de Santo André Klinger Souza. Os três foram convocados a depor quinta-feira na CPI.