Título: Problema do governo é de credibilidade, diz Alckmin
Autor: Elizabeth Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2005, Nacional, p. A6

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), subiu o tom das críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, em entrevista ao Estado, afirmou que o maior problema enfrentado pela administração federal e seu dirigente não é a perda de popularidade e sim a perda de credibilidade. "O que preocupa, nesta conjuntura de acirramento da crise, não é a perda de popularidade (do presidente e de seu governo), mas sim a perda de credibilidade, porque vemos o presidente dizer uma coisa e fazer outra," disse. Na entrevista, concedida por telefone da Índia, onde participa da maior feira de negócios da Ásia, Alckmin evitou, mais uma vez, falar diretamente sobre os planos de concorrer à Presidência da República. Mas ao comentar a entrevista do presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, ao Blog do Noblat, de que é o melhor nome para enfrentar Lula em 2006, falou como candidato: "Um governante tem de saber liderar, saber ousar, cortar gastos, manter a qualidade e pisar no acelerador para que as coisas andem mais depressa. Não há salvador da pátria nem à esquerda nem à direita, temos de ter ética, ser eficientes neste mundo competitivo e trabalhar com algo que deve ser uma obsessão nacional, a melhoria da educação em todos os níveis".

O governador salientou ainda a importância de um governante ser coerente com suas declarações. "A credibilidade se conquista quando existe confiança nos princípios e valores", disse, destacando que seu governo é bem avaliado porque mantêm, há 12 anos, desde a gestão Mário Covas, os princípios e valores na busca da eficiência.

No entendimento de Alckmin, o presidente Lula está se distanciando dessa credibilidade, ao tentar, por exemplo, evitar a prorrogação dos trabalhos da CPI dos Correios, apenas três dias após ter garantido, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, que sua administração não iria interferir nos trabalhos das CPIs em curso. "Há um evidente descompromisso entre falar e fazer."

Oposição de qualidade

O governador não quis falar especificamente sobre a situação do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, cada vez mais acuado pelas denúncias sobre arrecadação ilegal de fundos para a campanha eleitoral de 2002, sob alegação de que está fora do País há alguns dias e não acompanhou os últimos fatos sobre o assunto. Apesar disso, voltou a cutucar o presidente Lula. "A sorte do presidente é que ele tem uma oposição de muita qualidade, que não pretende cometer atos de irresponsabilidade, porque o nosso primeiro compromisso é com o País, não interessa a ninguém que as coisas piorem."

Mesmo sem entrar no mérito das denúncias que envolvem o ministro da Fazenda, Alckmin voltou a defender que as investigações dos escândalos sejam profundas e os responsáveis punidos. Para ele, é importante não confundir responsabilidade com impunidade. "Tudo deve ser apurado", afirma. "Essa crise é uma história sem fim, porque existem problemas acontecendo por todos os lados, não há fatos isolados, é uma verdadeira mistura do público com o privado, contaminando a administração pública".

O governador falou ainda que o País precisa de eficiência em várias áreas, citando a tributária, a administrativa, a de infra-estrutura, a de logística, entre outras. "Temos de reduzir o custo Brasil e ter mais competitividade. Por isso é preciso enfrentar alguns gargalos e dificuldades, como a elevada carga tributária, as taxas de juros absurdas, os problemas de logística, os custos elevados, a burocracia e a melhoria na Educação", defendeu.

Apesar da abordagem dessas questões nacionais, Alckmin voltou a insistir que "a decisão do PSDB (sobre o candidato às eleições presidenciais) será em março". Enquanto isso, o governador afirma que continuará fazendo seu trabalho "e pisando no acelerador".