Título: TV mostra tortura em quartel de Curitiba
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2005, Nacional, p. A7

Militares de uma unidade do Exército Brasileiro foram filmados quando submetiam colegas recém-formados a sessões de humilhação e tortura, promovidas a pretexto de trote por veteranos. As imagens foram exibidas ontem no Fantástico, da TV Globo. As dezenas de imagens de cenas de violência foram feitas no 20º Batalhão de Infantaria Blindado, em Curitiba (PR), e parecem rotineiras.

O Exército reconheceu em nota oficial "a existência de imagens verídicas" envolvendo integrantes da Força no quartel. E informou que foi aberta uma sindicância para "apurar os fatos e punir os responsáveis".

Os trotes aplicados nos chamados "lobinhos", terceiros-sargentos recém-formados, incluem a aplicação de ferro de passar roupa quente na orelha de uma das vítimas. As imagens mostram que, durante a sessão de tortura, outros militares riem. Há também simulações de afogamento acompanhadas por veteranos.

As cenas foram registradas, por vídeo amador, na 2ª Companhia de Fuzileiros, conhecida como Pantera, uma das unidades do 20º Batalhão, onde os trotes violentos são, segundo o programa, uma tradição.

O Fantástico mostrou imagens do sargento Murilo, um "lobinho", imobilizado pelo pescoço e, em seguida, amarrado no chão do dormitório enquanto era torturado com ferro quente. Em seguida, um militar lhe deu um choque na barriga. A sessão foi acompanhada por um militar com o rosto escondido por uma touca preta, que foi identificado como Medeiros.

Foi ele quem segurou o sargento Murilo, enquanto ele se esforçava para gritar "Socorro, Pires!", uma espécie de exigência para que a sessão tenha fim. Outros quatro sargentos recém-formados aparecem nos vídeos sendo submetidos aos trotes.

Na reportagem, o coronel Carlos Alberto Barcellos, do Centro de Comunicação Social do Exército, afirmou que "a posição do Exército é que qualquer agressão física e ou moral, em qualquer tipo de atividade, inclusive na instituição militar, é totalmente inaceitável".