Título: Expulsões da França começam hoje
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2005, Internacional, p. A9

PARIS - A França deve começar a expulsar hoje os estrangeiros em situação regular ou irregular que participaram dos atos de violência em todo o país. O anúncio foi feito pelo próprio ministro do Interior, Nicolas Sarkozy. Ele explicou que essas expulsões não caracterizam uma dupla pena, pois serão feitas por via administrativa e não judiciária - antes, assim, de um julgamento nos tribunais. Cento e vinte estrangeiros, entre os 300 detidos, muitos com residência no país, podem ser expulsos. Segundo Sarkozy, a lei autoriza as expulsões. Menores, crianças que entraram na França antes dos 13 anos e os que se encontram há mais de dez anos no país não podem ser expulsos. Ontem, o responsável pelo comando das tropas de choque e homem de confiança de Sarkozy, Christian Lambert, disse que as unidades ficarão muito tempo nos subúrbios de Paris e outras áreas sensíveis do país, mesmo após a restauração da paz. Pelo menos um terço do contingente atual deverá desenvolver uma ação de policiamento preventivo e não apenas de repressão como tem sido o caso.

O chefe da polícia de Paris, Michel Gaudin, considerou que houve uma madrugada de domingo "quase normal", dizendo que o número de veículos incendiados - 374 - foi mais ou menos o mesmo de um fim de semana comum. Segundo ele, há uma progressiva volta à normalidade em Paris e subúrbios.

Na noite de sábado em Paris, o que mais chamou a atenção foi a grande confusão provocada por Sarkozy nos Champs-Elysées, onde ele esteve para inspecionar o dispositivo policial de 2.200 homens. O ministro foi recebido com vaias e aplausos equilibrados, mas para muitos sua presença foi mais uma provocação. Afinal, ele assumiu a tese da repressão contra a do diálogo, defendida pelo primeiro-ministro Dominique de Villepin. Também foi equilibrado o resultado de uma pesquisa do instituto Ifop sobre qual dos dois líderes reúne mais confiança da população para solucionar a crise. Sarkozy obteve 53% e Villepin, 52%.

Ontem à tarde voltaram a ocorrer distúrbios na periferia de Lyon. Na véspera, a polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar grupos que queimavam carros no centro da cidade. As autoridades locais proibiram grandes concentrações e estenderam o toque de recolher noturno para menores - que vigora das 22 às 6 horas.

Segundo o Ministério da Justiça, até a tarde de ontem 2.652 pessoas estiveram - e algumas ainda estão - sob prisão provisória desde o início da violência, no dia 27. Mais de 8.500 veículos foram incendiados.