Título: Festival de verbas: R$ 7,5 bilhões em 10 dias
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2005, Economia & Negócios, p. B3

BRASÍLIA - Os empréstimos externos a serem autorizados hoje elevarão para aproximadamente R$ 7,5 bilhões o total de liberações de verbas anunciadas pelo governo nos últimos dez dias. Sob a batuta da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na semana passada os ministérios receberam autorização para gastar mais R$ 1,2 bilhão dos recursos do Orçamento. Além disso, o Projeto Piloto de Investimentos (PPI) que o Brasil tem com o Fundo Monetário Internacional (FMI) recebeu uma injeção de R$ 200 milhões. O Ministério das Cidades anunciou mais R$ 3,5 bilhões para obras de saneamento básico. Os projetos com financiamento externo somam US$ 1,2 bilhão, aproximadamente R$ 2,6 bilhões.

O festival de liberações ajuda a acalmar os ânimos no Congresso, em meio ao tiroteio entre governo e oposição. Das verbas que serão liberadas para o saneamento, aproximadamente R$ 900 milhões serão utilizadas para obras que foram incluídas no Orçamento da União por emendas de parlamentares.

Coincidência ou não, projetos de interesse do governo que estavam parados no Legislativo conseguiram avançar nos últimos dias, ainda que aos trancos e barrancos. A Câmara aprovou, numa votação tumultuada, a Medida Provisória 258, que cria a chamada "Super Receita", que ainda depende de aprovação do Senado. Os senadores, por sua vez, aprovaram a indicação de Luis Fernando Schuartz para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Com isso, o colegiado poderá voltar a funcionar. O Cade estava parado desde o fim de outubro por falta de quórum.

No entanto, não é só a crise que explica a aceleração nos gastos do governo. Há nesse movimento um certo "efeito Dilma". Quando saiu do Ministério de Minas e Energia para assumir a Casa Civil, ela escolheu como desafio "destravar" as engrenagens da máquina governamental e tirar os projetos do papel. Nisso, trombou de frente com seu colega da Fazenda, Antonio Palocci, cuja equipe está empenhada em fazer o maior superávit primário possível. O superávit primário é a economia de recursos públicos para pagar juros.

Nos últimos dias, Dilma e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, reuniram-se separadamente com vários ministros para avaliar o andamento dos projetos de áreas como Transportes e Turismo, por exemplo. Desses encontros, sairá a decisão de onde o governo alocará o R$ 1,2 bilhão adicional anunciado recentemente.

Há, ainda, o que os técnicos chamam de comportamento sazonal dos gastos do governo: liberações concentradas nos últimos meses do ano.