Título: Burocracia atrasa importações de produtos de beleza
Autor: Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2005, Economia & Negócios, p. B5

Trazer do exterior as últimas novidades das maiores grifes de perfumes, cosméticos e maquiagem virou uma dor de cabeça para importadores e distribuidores de produtos de beleza nos últimos meses. Além da greve dos auditores da Receita Federal que recomeça e pára várias vezes, comenta-se que o cenário mudou depois da operação da Polícia Federal para apurar sonegação fiscal na Daslu, maior loja de consumo de luxo do País. "Eles estão muito mais rígidos para desembaraçar mercadorias no porto", diz um importador. Mas há quem garanta que mesmo antes do episódio da Daslu a situação já estava complicada.

A proximidade do Natal, comemorada pelo comércio como melhor período do calendário de vendas, preocupa ainda mais os importadores. Tanto é que já se articula uma reunião na Federação do Comércio do Estado de São Paulo para ver que providências podem ser tomadas.

"A burocracia para importar ficou maior e ouço dizer que as regras não estão claras", diz a represente de uma distribuidora, que prefere não se identificar porque considera o assunto delicado.

A LVMH do Brasil, representante de várias marcas internacionais, entre elas Dior, Givenchy, Guerlain, Kenzo e Acqua di Parma, está com oito embarques parados. "Algumas encomendas chegaram em agosto, outras em setembro e uma parte no mês passado", diz a gerente de marketing, Katarina Queiróz.

DIFICULDADES

Só na semana passada a empresa responsável pela importação da LVMH conseguiu desembaraçar uma encomenda que havia chegado em maio. "Só recebemos agora o perfume J'Adore, carro-chefe de vendas da Dior, em falta em várias lojas." A Dior representa 50% do faturamento da LVMH no Brasil.

O último perfume lançado em outubro para o público masculino, o Dior Homme, está preso num contêiner há três meses. O frasco de 100 ml, que deverá custar R$ 288, seria a principal novidade da marca para o fim de ano. "Encomendamos legalmente, fizemos o lançamento e nada. Mas ele já pode ser encontrado na região da Rua 25 de Março", comenta Katarina, irônica, referindo-se ao contrabando.

A LVMH calcula que tem retidos cerca de R$ 3 milhões em mercadorias. "Elas vêm por uma trading e os importadores dizem que há uma exigência maior com documentos", comenta ela.

Se não conseguir liberar dois embarques este mês, Katarina acredita que o resultado do Natal poderá ficar abaixo de dezembro de 2004. "Se tudo correr bem vamos conseguir no máximo um empate de faturamento em relação ao ano passado. A expectativa era crescer 10%."

SEM ESTOQUES

Vender cremes, maquiagem, perfumes e outros produtos de beleza importados se tornou um desafio para a Drogaria Iguatemi, onde 80% das ofertas que atraem clientes fiéis e de alto poder aquisitivo vêm do exterior. "Do estoque que costumamos comprar, 40% está em falta", diz a diretora da farmácia, Karina Diniz Jorge, com lojas nos shoppings Iguatemi de São Paulo e Campinas e no Market Place.

"O incrível é a demora para liberar contêineres de produtos que já são importados há muitos anos", diz. No mês passado ela investiu na promoção de uma nova base da L'Oreal e quando o produto acabou não conseguiu fazer a reposição. Nas três megastores da Drogaria Onofre, os dermocosméticos, perfumes e maquiagem importados estão chegando em conta-gotas.

"Há 40 dias não recebemos nada da L'Oreal. Investimos mais de R$ 1 milhão em marketing para o fim do ano, distribuímos 80 mil malas diretas para clientes e a mercadoria parou no porto", diz o diretor da rede, Marcos Arede. "O estoque está pela metade e torço para as encomendas chegarem nos próximos 20 dias. Daqui a pouco a saída vai ser aumentar os estoques para enfrentar esta burocracia, o que significa aumento de custo e preços mais altos para o consumidor."