Título: Petistas estendem cortes aos diretórios estaduais
Autor: Ana Paula Scinocca e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2005, Nacional, p. A17

Prejudicados pela crise e com os repasses do Fundo Partidário reduzidos pela metade nos próximos dois anos, os diretórios estaduais do PT também se preparam para demitir funcionários. O enxugamento já preocupa dirigentes, que temem o reflexo nas eleições do ano que vem. Para piorar o quadro, o envio de recursos do Diretório Nacional para os escritórios estaduais até o fim deste ano será cortado a quase zero. A medida será tomada para que o PT acerte suas contas com a Perseu Abramo, fundação de formação política da legenda que deve receber 20% dos repasses do Fundo Partidário. A cota da fundação foi atrasada nos últimos meses, com acúmulo de cerca de R$ 1,5 milhão.

Conforme a lei, se a legenda fechar o ano sem regularizar sua situação com a fundação, corre o sério risco de ter sua prestação de contas de 2005 rejeitada e, conseqüentemente, ter suspenso o Fundo Partidário. "Vamos regularizar toda a situação fiscal, jurídica e financeira do PT", afirmou o secretário de Finanças da sigla, Paulo Ferreira. Ele nega que o aperto sobre os Estados seja maior neste fim de ano.

"Não vamos receber nada nos próximos dois meses", disse Frei Anastácio, presidente do diretório da Paraíba. "O esforço é maior agora para regularizar a situação da Perseu Abramo." A medida foi confirmada por outro integrante da cúpula petista, que preferiu não se identificar.

O Diretório Nacional determinou que os Estados tenham descontados nos repasses do fundo, nos próximos dois anos, as dívidas que mantêm com a sede nacional. As principais dizem respeito ao leasing fechado com o Banco do Brasil para aquisição de computadores, no valor de quase R$ 20 milhões. Em média, os Estados receberão a metade do total repassado desde 2003.

Na avaliação de dirigentes, o desgaste sofrido pelo PT com as denúncias de corrupção e a prática de caixa 2 - admitida pelo ex-dono do cofre da legenda Delúbio Soares - vão prejudicar em cheio o desempenho dos candidatos petistas no ano que vem. "Sem demissão o quadro já era ruim, agora nem se fala", reconheceu um petista.

Secretário-geral do PT, Raul Pont disse que a demissão nos diretórios do partido é "temporária e emergencial". Apenas na sede nacional já foram dispensados 37 dos 125 funcionários. Em Brasília, o quadro de empregados foi reduzido em dois terços. Coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral, Gleber Naime lamenta as demissões, mas avalia que elas não prejudicarão o desempenho do PT em 2006. "Ninguém gosta de demitir. Mas a medida do ponto de vista eleitoral certamente não terá nenhum impacto", disse. "As campanhas têm suas coordenações próprias. Não são assumidas pelo partido."

INCERTEZA

Nos Estados, porém, o clima é de incerteza. As direções eleitas em setembro ainda estão tomando posse. Nos escritórios de São Paulo e Rio Grande do Sul demissões já foram feitas. Em São Paulo, funcionários falam em 15 demitidos, mas o partido só confirma 3 baixas. No Sul, as dispensas vêm desde o ano passado e atingiram 9 postos de trabalho.

O escritório regional do Rio de Janeiro prepara cortes enquanto na Paraíba não há previsão de redução nos quadros diante da já enxuta estrutura. O mesmo se repete no Ceará.