Título: Saída de Levy já estava programada
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2005, Economia & Negócios, p. B1

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, já vinha preparando sua saída do Ministério da Fazenda há algum tempo. O desembarque começou a ser articulado quando aumentaram de intensidade os sinais de que a "ala gastadora" do governo, liderada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, estava ganhando a queda de braço com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O desfecho da disputa ficou claro esta semana, quando os planos de aprofundar o ajuste fiscal foram sepultados e o governo anunciou várias liberações de verbas. Levy era dos que defendiam a elevação do superávit primário (economia de recursos público para pagamento da dívida) dos atuais 4,25% do PIB para 5% do PIB. Ele também aproveitava todas as oportunidades que tinha para mostrar que a taxa Selic elevada era um peso enorme para a administração da dívida pública. De um lado, ele tentava conter a dívida e, de outro, a cada elevação da Selic a dívida aumentava. Pregava que a Selic, sozinha, não poderia fazer todo o trabalho de conter a inflação e que outras taxas, como as do financiamento do BNDES, também deveriam acompanhar o movimento para cima ou para baixo da taxa de juros básica da economia.

Essas não foram, porém, as razões alegadas por ele para pedir dispensa. Levy levantava razões pessoais: a família mora em Curitiba e o salário de secretário não permite viagens freqüentes de Brasília para lá. Em Washington, ele conseguiria reunir-se novamente à mulher e às filhas.

Em seu projeto de saída do governo, Levy foi apoiado pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Na condição de governador brasileiro junto ao BID, Bernardo encaminhou para Washington, já há algum tempo, a indicação de Levy para ocupar o posto de vice-presidente. O que se viu ontem em Brasília, porém, foram tentativas de desmentir que o plano. A informação nos ministérios da Fazenda e do Planejamento era que não se sabia de nada.

No início da noite, três horas e 57 minutos depois de veiculada a notícia da ida de Levy ao BID, a Fazenda finalmente se pronunciou. Informou que "Levy foi sondado pelo presidente do BID para ocupar o cargo, mas não tomou nenhuma decisão".

A vice-presidência do BID é um cargo criado especialmente para o Brasil. O posto é atualmente ocupado pelo economista João Sayad, que ficou numa situação desconfortável porque disputou a presidência da instituição e perdeu.