Título: Não se pode dizer que não há aftosa no PR, alerta o governo
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2005, Economia & Negócios, p. B5

O Ministério da Agricultura admitiu ontem que ainda não é possível divulgar um parecer conclusivo sobre a ocorrência de febre aftosa no Paraná, onde há 23 dias foram declarados área de risco sanitário 32 municípios vizinhos a Loanda, Amaporã, Maringá e Grandes Rios, estes já isolados pela Secretaria de Agricultura do Estado. O ministério justificou que "os exames realizados pelo Laboratório Nacional de Apoio Agropecuário (Lanagro", no Pará, não foram suficientes para esclarecer o quadro clínico apresentado". A Sociedade Rural do Paraná (SRP) classificou de "criminosa" a atitude do ministério. "Quem irá se responsabilizar a partir de agora pela sanidade do rebanho paranaense, que não está podendo ser vacinado convenientemente por causa da indefinição do Ministério?", questionou o presidente da SRP, Edson Neme Ruiz.

Técnicos explicaram que, para fechar um diagnóstico, é preciso levar em conta vários fatores, e o exame é só um deles. "Os técnicos da Secretaria de Defesa Agropecuária do ministério entendem que um diagnóstico conclusivo não se restringe apenas a resultados de exames laboratoriais, sendo também necessário que se considerem as manifestações clínicas e a vinculação epidemiológica, ou seja, a origem dos animais", observa a nota do ministério.

A origem dos animais foi o fator considerado pelo ministério e pela Secretaria de Agricultura do Paraná para reconhecerem que havia uma forte probabilidade de existência de focos de aftosa, em outubro. Na época, ficou comprovado que bovinos dos quatro municípios paranaenses isolados haviam tido contato com animais de Eldorado, município sul-mato-grossense em que foi localizado o primeiro foco da doença, este ano.

A nota lembra que, em 20 de outubro, a secretaria paranaense notificou o ministério sobre a presença de bovinos com sintomas clínicos compatíveis com febre aftosa.

Enquanto não sair o laudo definitivo, da área declarada como sendo de risco no Paraná não saem nem animais suscetíveis à aftosa, nem carne industrializada, nem leite para outros municípios do Paraná e para outros Estados.

Em nota oficial, a SRP contestou os argumentos do ministério. O primeiro argumento refere-se à procedência dos animais comercializados na Eurozebu. Eles foram ofertados pela Fazenda Bonanza, do Mato Grosso do Sul - daí a origem da suspeita, já que a região apresentou até agora 22 focos confirmados de aftosa. "Os animais oriundos de Mato Grosso do Sul pertenciam a uma única propriedade e até o momento laudos emitidos pela Iagro (o órgão de vigilância sanitária daquele estado) atestam que todos os animais dessa propriedade não apresentam nenhuma sintomatologia que indique a presença do vírus da febre aftosa."

Segundo Ruiz, o laudo mais recente foi feito ontem .

Os exames feitos pelo Lanagro obedeceram criteriosamente às recomendações internacionais, garantiu a SRP.

As amostras, observou o presidente da SRP, não se limitaram aos 19 animais suspeitos - se estenderam a mais de 500 animais. "O resultado final foi negativo", enfatizou Ruiz.

"É estranho, muito estranho", reagiu ele à afirmação de que, apesar de os exames darem negativo, o diagnóstico conclusivo não deve se restringir só a resultados de exames laboratoriais. "Isto não é condizente com a realidade dos fatos", sublinhou o presidente da SRP.