Título: Apesar de alto, resultado decepciona e ações recuam
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2005, Economia & Negócios, p. B6

O resultado anunciado ontem pela Petrobrás, apesar de estar em linha com os maiores já registrados, decepcionou o mercado financeiro, que esperava mais para o terceiro trimestre. A média das apostas indicava um valor, pelo menos, 15% superior para o lucro, em torno de R$ 6,5 bilhões. Os reflexos da frustração apareceram rápido, com a imediata queda das ações da estatal na Bolsa de Valores de São Paulo. Tanto os papéis preferenciais quanto os ordinários chegaram a cair mais de 4% pela manhã e fecharam o pregão em queda, respectivamente, de 2,96% e 2,51%. Em relatório, o banco Brascan informou que o resultado ficou 10% abaixo de sua estimativa. Para o analista Luiz Caetano, os aumentos de custos e as importações maiores que o esperado prejudicaram o desempenho da estatal. Mas destacou os bons saldos em vendas e preços. "Apesar deste resultado pior que o esperado, continuamos indicando a compra destas ações, em razão da expectativa de crescimento da produção e vendas nos próximos anos, que devem proporcionar forte elevação dos lucros da Petrobrás."

Para Luiz Otávio Broad, da Corretora Ágora, um dos destaques negativos do balanço foi o aumento dos custos de produção, que ficou acima do esperado pelo mercado. Ele lembrou ainda que a geração de caixa também foi menor do que a esperada pelos analistas. Com relação à sua previsão, a geração de caixa (Ebitda) da empresa foi 4% menor. Ele lembrou ainda que as vendas vieram abaixo do esperado e as margens foram baixas. Como destaque positivo citou a redução do endividamento da empresa, de R$ 33,3 bilhões para 26,2 bilhões entre o segundo e o terceiro trimestres, uma queda de 21%.

A avaliação da área financeira da Petrobrás era de que a quedas das ações refletia também o momento político, que ontem teve notícias ruins para o mercado financeiro, como a saída do secretário do Tesouro, Joaquim Levy. Na coletiva de imprensa para divulgação dos números, o diretor financeiro da companhia, Almir Barbassa, comemorou o resultado e disse que estava em linha com as atividades da companhia.

Ele admitiu, porém, que há grande preocupação com o aumento de custos. "Mas é uma questão que não depende só da gente", disse Barbassa, ressaltando que o mercado internacional de petróleo está aquecido e os fornecedores de bens e serviços têm elevado seus preços. O custo de produção, por exemplo, subiu 33% este ano, atingindo US$ 5,54 por barril - sem contar as participações governamentais, como royalties, que também cresceram.

Mas os custos corporativos, que representam os gastos com pessoal administrativo e manutenção dos edifícios da companhia, também subiram consideravelmente. Entre janeiro e setembro, a área corporativa da empresa teve prejuízo de R$ 5,044 bilhões, valor 113% acima do registrado no mesmo período do ano passado. Barbassa disse que o rombo foi causado por aumento de gastos com pessoal e com o reajuste na tabela de aposentadorias da empresa.

Além disso, a companhia promove reformas em seu edifício-sede e está finalizando a montagem de escritórios no novo prédio que ocupou no centro do Rio, no início do ano.

Barbassa apresentou dados sobre a valorização das ações da companhia nos últimos anos que, segundo ele, se descolaram do índice das empresas de petróleo com papéis em Nova York. "Conseguimos acrescentar 180 mil barris de petróleo por dia este ano, em um momento em que a maior parte das companhias têm dificuldade em ampliar produção e repor reservas."

Ele destacou também que a Petrobrás tem reservas para 17 anos de produção, a terceira maior média entre as empresas negociadas em bolsas de valores - o que exclui as gigantes árabes. Esta semana, o diretor de Exploração e Produção, Guilherme Estrella, disse que a Petrobrás terá uma aumento "considerável" de reservas este ano.