Título: 'Não estou fora do páreo', diz Aécio
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2005, Nacional, p. A10

Em Londres, governador mineiro avisa que não aceitará "imposição" no processo de escolha do candidato tucano à Presidência

LONDRES - O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, avisou ontem em Londres que não aceitará "imposição" no processo de escolha do nome do candidato do PSDB à Presidência da República, em 2006. Aécio disse que não descarta sua candidatura e que o processo de escolha do presidenciável tucano "certamente terá que passar" por Minas Gerais. "Não estou fora do páreo, somente não tenho a obsessão que outras pessoas vêm demonstrando por isso (pela candidatura)", disse Aécio. Ele não citou nomes, mas se referia ao prefeito de São Paulo, José Serra. "Meu papel é evitar um fato consumado pelo atropelo, como ocorreu na eleição passada."

Ele salientou que o PSDB deve esperar até março para escolher seu candidato, "que necessariamente não será aquele que está melhor hoje nas pesquisas, mas sim o que mostrar condições de atrair apoio ao longo da campanha eleitoral, de formar uma grande aliança". Segundo ele, o PSDB não pode repetir o "atropelo" que marcou o processo de escolha de seu candidato presidencial em 2002.

Aécio observou que a escolha do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) para a presidência do PSDB foi importante, pois tem um efeito desconcentrador sobre seu partido. "Teremos uma proposta menos concentrada em São Paulo, mais nacional", disse. "Temos que escolher um candidato que represente um fortalecimento da unidade interna, e não o que mais quiser ser candidato." Esse candidato, afirmou, "não surgirá de uma convenção apenas de um Estado, mesmo que esse Estado seja São Paulo".

Aécio disse que o PSDB apresenta três nomes, além do dele, como possíveis candidatos em 2006: Serra, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "O presidente Fernando Henrique avalia que qualquer desses nomes tem plenas condições de sair vencedor", afirmou. "Todos têm que estar preparados para ser o candidato, mas também têm que estar preparados para não ser e trabalhar para a unidade do partido; será um teste de sinceridade da unidade do partido."

Ele observou que Alckmin está completando "um ciclo", encerrando seu segundo mandato à frente do governo de São Paulo. "Isso dá a ele uma condição mais natural de candidato, pois não terá mais mandato." Aécio e Serra ainda cumprem seus primeiros mandatos, podendo concorrer à reeleição.

TURBULÊNCIA

O governador mineiro disse a uma platéia de investidores e analistas da City londrina que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "deixou de ser um candidato imbatível" na eleição presidencial de 2006. Ao ser questionado, durante um seminário de promoção de Minas e da Cemig, sobre a crise brasileira, ele disse que o processo político no País passa por um período de grande turbulência. "Ainda não temos condições de ver como o presidente Lula estará no ano que vem, mais próximo da eleição, e por isso é correta nossa decisão de escolher um candidato em março", afirmou. "Não desprezo a capacidade política do presidente, mas passou a existir uma possibilidade real e concreta do retorno do PSDB ao poder."

Aécio ressaltou que um fator cada vez mais relevante na campanha eleitoral será a capacidade de o futuro presidente formar alianças que resultem numa base de apoio sustentável no Congresso. "Se o Lula ganhar a eleição, certamente poderemos ver essa situação que temos hoje, ou um presidente ainda mais enfraquecido", disse. "O PSDB tem condições de atrair uma base maior de apoio."

Ele disse ainda que, quando retornar ao Brasil, na próxima semana, vai sugerir a Lula que se "coloque água na fervura" da crise política. Vai propor também que o governo e a oposição negociem uma agenda mínima com temas prioritários para o País no restante deste ano e em 2006. "Não sou dinamitador de pontes."