Título: Na defesa, o advogado-guerrilheiro
Autor: Denise Madue¿
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2005, Nacional, p. A8

Com insistentes recursos, Oliveira Lima garante sobrevida política a Dirceu

BRASÍLIA - Eleitor do tucano José Serra, admirador de Winston Churchill, palmeirense doente, o advogado criminalista José Luis Mendes de Oliveira Lima, de 39 anos de idade e 16 de profissão, pensa 24 horas por dia em um único cliente: o deputado e ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP). Oliveira Lima foi contratado para a tarefa quase impossível de livrar Dirceu da perda do mandato. O objetivo de garantir a permanência dele na Câmara pode não ser alcançado, mas Oliveira Lima já se destacou em uma tarefa: com insistentes recursos ao Supremo Tribunal Federal (STF), tem conseguido garantir uma sobrevida política ao deputado, adiando a votação do pedido de cassação no Conselho de Ética e no plenário da Câmara. "A questão política é com ele, a jurídica é comigo", resume Oliveira Lima, que enfrenta o maior desafio de sua carreira. Advogado e cliente aproximaram-se por indicação do ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, que não pôde aceitar a causa de Dirceu por já ter sido contratado pelo Banco Rural, outro envolvido no escândalo do mensalão. "O ministro José Carlos Dias é meu segundo pai, com quem aprendi a advogar e a viver as alegrias e tristezas da advocacia, meu grande guru, a quem devo minha carreira", diz Oliveira Lima, filho do advogado Ariobaldo Oliveira Lima.

De segunda a quinta, Oliveira Lima trabalha em Brasília, onde encontra o cliente ilustre praticamente todos os dias. Nos outros dias, fica em São Paulo, cidade onde nasceu e mora. Tem que se contentar em ver os jogos do Palmeiras apenas pela TV, embora ir ao estádio seja uma de suas alegrias.

Paixão mesmo, diz, são os quatro filhos. A caçula, Maria Luiza, tem quase o tempo da convivência entre Oliveira Lima e José Dirceu: três meses e meio. Ela nasceu em 11 de julho. Oito dias depois, ele foi contratado para a defesa do deputado.

No caso José Dirceu, o advogado trabalha com o assistente Rodrigo Dell'Acqua. Na quinta-feira, a reunião no Conselho de Ética ainda transcorria quando Della'Acqua deixou a Câmara e foi preparar um novo recurso ao Supremo. No mesmo dia, conseguiu a anulação da sessão que tinha aprovado o parecer pela cassação de Dirceu. "Dez minutos depois da sessão, Rodrigo estava no Supremo", elogia Oliveira Lima.

Ontem, a tarde de feriado de Oliveira Lima, que já ganhou o apelido de advogado-guerrilheiro, foi dedicada a trabalhar no novo mandado de segurança que vai levar ao Supremo, amanhã ou segunda-feira, tentando, mais uma vez, anular o processo contra José Dirceu. Tinha acordado às 7h30, lido os jornais e descansado um pouco mais antes de ir para o escritório. "É bom até sonhar com isso, para não baixar a guarda."