Título: TCU aponta irregularidades na Infraero
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2005, Nacional, p. A6

Auditores detectaram contratos feitos sem licitação e sem pesquisas de preços

BRASÍLIA - O primeiro relatório do deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator da CPI dos Correios para a área de movimentação financeira, afirmará que a versão dos empréstimos bancários para justificar a origem do dinheiro do mensalão é comprovadamente falsa. O parecer, que deve ser entregue na próxima segunda-feira ao relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), mostrará uma rigorosa auditoria nas contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Os técnicos da CPI descobriram que os empréstimos contraídos pelo empresário no Banco Rural não passam de uma manobra contábil, provavelmente para maquiar operações financeiras no exterior.

MAQUIAGEM

Fruet não tem mais dúvidas sobre a maquiagem. "Os empréstimos são uma fantasia", afirma. Os técnicos da comissão descobriram que o dinheiro dos "empréstimos" creditados para o empresário simplesmente sumiu das contas. Um dos empréstimos que desapareceu dos registros contábeis foi o de R$ 12 milhões, valor semelhante ao valor depositado em dólares, no exterior, para Duda Mendonça - cerca de R$ 10 milhões, segundo a versão do publicitário.

Desmontada a versão do empréstimo, o relatório vai apontar como uma das fontes do mensalão os milionários contratos das agências de Valério, a SMPB e a DNA, com o governo. Fruet também vai propor uma auditoria nos contratos privados firmados pelas agências.

O relatório também vai abordar a outra ponta do esquema, os sacadores. Até agora, já foram identificados 140 deles, mas boa parte sem registro ou com CPF inválido. É o mesmo caso da relação de beneficiários de transferências eletrônicas, que apresenta vários "fantasmas" e pode revelar mais políticos envolvidos no esquema.

CRONOGRAMA

A idéia de Fruet é apresentar um relatório por semana até o fim do ano, cada um sob um tópico diferente. Os próximos deverão versar sobre as movimentações das corretoras Bônus-Banval e Guaranhuns. Agora, o grande desafio da CPI para mapear as demais origens do mensalão é conseguir acesso aos documentos das contas que abasteceram a offshore Dusseldorf, do publicitário Duda Mendonça, que poderão revelar as fontes do dinheiro sujo.

Esses documentos já estão sendo enviados ao Ministério Público e à Polícia Federal. A CPI não é reconhecida pela Promotoria de Nova York como instituição legítima para receber cópias dos documentos, mas parlamentares deverão viajar semana que vem aos EUA para pedir acesso aos documentos.Já se sabe que a offshore de Duda foi abastecida por contas de doleiros, o que demandará uma análise demorada.