Título: Empréstimos para PT eram falsos, dirá relatório
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2005, Nacional, p. A6

Depois de analisar as contas de Valério, sub-relator da CPI conclui que foram suas agências, e não as operações bancárias, que garantiram recursos para o mensalão

BRASÍLIA - A paranóia está no ar. O clima de confronto instalado no Congresso há mais de 5 meses, desde que surgiram as primeiras denúncias sobre o mensalão, tem levado deputados e senadores a se julgarem vigiados, vítimas de espionagem. O presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), disse ontem ter sido vítima de grampo telefônico - descoberto há cinco dias, segundo ele, por um amigo técnico em telefonia. Izar contou que os grampos estavam em seus telefones do escritório e de sua casa em São Paulo. Ele afirmou que pediu à Polícia Federal e à segurança da Câmara que investigassem se também seus telefones de Brasília, incluindo o celular, estavam grampeados. "Não sei com que interesse grampearam os meus telefones", disse Izar. Ele descartou a hipótese de o grampo ter sido feito pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). "Não tem fundamento falar que a Abin está grampeando telefones."

Nesta semana, o clima de perseguição entrou no auge, após a denúncia do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), que acusou o governo de contratar uma pessoa para espionar sua família em Manaus. Na terça-feira, o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) também foi a público dizer que tinha certeza de que estava sendo grampeado e que tinha fortes evidências de que a Abin estaria por trás disso.

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), é outro que suspeita de grampo. "Estou desconfiado. Meu telefone não tem funcionado normalmente nos últimos dois meses", afirmou ele, que já chamou a empresa telefônica de seu Estado para verificar o telefone de sua casa.

INTERESSES

Serraglio sustenta, porém, que não está preocupado. Para ele, é difícil saber quem estaria por trás dos grampos. "Uma CPI mexe com uma série de interesses, com muita gente, muitas empresas, parlamentares. É difícil dizer quem estaria fazendo isso. Mas certamente é alguém que quer diminuir a força do relator dentro da CPI."

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) também trabalha com a hipótese de estar sendo vítima de escuta telefônica e espionagem. "Já fiz varredura com o pessoal da segurança do Senado. Mas informaram que com a atual sofisticação dos equipamentos está cada vez mais difícil pegar", afirmou, contando que há cerca de dois meses sua família recebeu ameaças.

Ela acha difícil identificar quem estaria por trás da escuta e atacou ACM Neto, cujo avô, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), quase foi cassado por denúncias de ter grampeado adversários na Bahia. "Não se pode ter o pressuposto de que a Abin fez um grampo. Embora devamos reconhecer que de grampo ele entende."