Título: CPI antecipa indiciamentos
Autor: DORA KRAMER
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2005, Nacional, p. A6

A idéia é divulgar um relatório parcial em novembro denunciando Valério e Delúbio

Há algumas semanas distante dos holofotes dos depoimentos e das revelações espetaculares, a CPI dos Correios apressa nos bastidores o trabalho de exame e cruzamento de dados com o objetivo de divulgar, entre os próximos dias 18 e 20, um segundo relatório parcial, desta vez pedindo o indiciamento de Marcos Valério e Delúbio Soares pela prática de ilícitos financeiros. O primeiro relatório saiu em agosto, com a lista de 18 parlamentares que teriam participado do esquema de arrecadação e distribuição de dinheiro, denunciados por quebra de decoro parlamentar.

A antecipação de mais um relatório é fruto do trabalho da subcomissão de movimentações financeiras, comandada pelo deputado Gustavo Fruet.

Em dezembro, antes do recesso parlamentar e ao final do primeiro prazo regulamentar de seis meses para o funcionamento da CPI, instalada em junho, será divulgado um terceiro relatório, incluindo entre os indiciados o deputado José Dirceu, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, talvez (ainda não é certo) o ex-presidente José Genoino e outros diretamente envolvidos, como sócios e funcionários de Marcos Valério.

Nesse parecer estarão as irregularidades cometidas nos Correios e outras estatais, mapeada boa parte dos caminhos percorridos por recursos irregulares, exposta a farsa da versão dos empréstimos, relatados episódios de tráfico de influência com o objetivo de beneficiar empresários e delineada a influência política na ocupação de cargos com a finalidade de acobertar ilícitos.

A preocupação dos integrantes da CPI dos Correios, sejam eles governistas ou oposicionistas, é fornecer respostas claras, detalhadas e se possível definitivas a respeito do uso do aparelho de Estado para o abastecimento do caixa do PT e sustentação da base de apoio parlamentar do governo. "A CPI não pode acabar mal" é a frase recorrente entre deputados e senadores.

E, para que termine bem, discute-se ali a necessidade de pedir uma prorrogação até março ou abril, para concluir investigações nos fundos de pensão e em outras estatais, como o Instituto de Resseguros do Brasil, e adiantar ao máximo as apurações sobre contas no exterior. Quanto a este ponto específico, a CPI não acredita que consiga apresentar um trabalho conclusivo.

De qualquer modo, a idéia é apresentar ao final uma "peça acusatória" contra o PT e o governo que, se prevalecer o desejo da oposição, sirva como referência para toda a campanha eleitoral. Estará ali, no relatório final da CPI dos Correios, o roteiro básico para a argumentação com a qual os oposicionistas pretendem combater o projeto de reeleição de Lula.