Título: Faltam vacinas contra aftosa em SP
Autor: Chico Siqueira, Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2005, Economia & Negócios, p. B3

Antecipação da campanha e corrida dos pecuaristas resultaram em desabastecimento nas revendas; falha está na distribuição

A antecipação da segunda fase da campanha de vacinação contra a febre aftosa provocou a falta de vacinas no interior de São Paulo. Surpreendidos com a decisão do governo, os revendedores de produtos agropecuários tiveram os estoques zerados nos primeiros dias da campanha pelos criadores, que correram às compras para apressar a imunização do gado.

Com a antecipação, houve problemas de distribuição e muitos revendedores ficaram sem a vacina para entregar aos criadores. Além disso, a ausência das vacinas do laboratório Valée ¿ um dos seis fabricantes nacionais, que teve barrados lotes do produto que deveria estar à venda no mercado ¿ fez com que representantes e vendedores estimassem uma possível falta de vacina para o final da campanha, que termina em dezembro.

Em Araçatuba, apenas um dos cinco grandes revendedores de vacinas contra aftosa na cidade tinha anteontem e ontem estoque para venda. ¿Aqui só vai ter vacina na sexta-feira¿, disse Gilberto Borin, gerente da Atacadão Nelore, uma das revendedoras. Segundo ele, a antecipação apressou a venda de 200 mil doses de vacinas.

¿As compras foram feitas para o início de novembro. Com a antecipação e o clamor sobre o assunto, os pecuaristas foram cedo às compras e quem não iria vacinar o gado agora vai¿, comentou Luiz Salvador, dono do Galpão Nelore, que comprou 500 mil doses da vacina e fez plantão ontem, em pleno feriado, para vender parte das 260 mil doses que restam.

Salvador não acredita, mas acha possível a falta. Segundo ele, o governo talvez não tenha incluída na demanda muitos criadores que nunca vacinaram e que o farão agora. Uma das indicações disso, relatou, é o aumento da venda de seringas Hoppner, usadas na vacinação. ¿Nunca houve uma procura tão grande por essas seringas¿, afirmou.

Para Roni Marcos Padula, gerente de uma revendedora de Araçatuba, a possibilidade de falta de vacinas no final da campanha não é tão distante, pelo menos em Araçatuba. ¿Muitos criadores daqui compram vacinas para imunizar o gado em Mato Grosso do Sul e a produção do Valée é importante. Sem ela, certamente pode faltar.¿ Além de Padula, outros três gerentes de revendedoras ouvidos pelo Estado têm a mesma perspectiva de falta de vacinas no fim da campanha.

¿Eu precisava de 800 doses e não encontrei, vou esperar até sexta-feira, quando devem chegar mais¿, disse o administrador de fazenda Sílvio Ferreira, ao sair de uma loja sem conseguir comprar as vacinas na terça-feira, em Araçatuba. Em Bauru, também havia falta.

Ontem o ministro da Agricultura Roberto Rodrigues garantiu que recebeu ¿informação segura¿ de que não vai faltar vacina. ¿Eu perguntei para o setor e me garantiram que tem vacina suficiente para todo mundo. Os laboratórios me garantem que não falta vacina¿, completou.

¿Pode haver um problema de distribuição, dado o interesse dos pecuaristas em vacinar o gado logo no começo da campanha agora em novembro. Mas não haverá problema de produção de vacina¿, disse Jorge Caetano, diretor do Departamento de Saúde Animal da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SDA/Mapa).

CORRIDA

O surto de febre aftosa no sul de Mato Grosso do Sul, de acordo com ele, deve provocar uma corrida aos revendedores. A programação de produção de vacinas dada pelo ministério será cumprida, mas a expectativa é sempre que procura pelas doses seja diluída ao longo do mês de novembro, quando ocorre a segunda fase da campanha de vacinação.

O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan) informou que a produção anual de vacinas contra aftosa deverá superar 370 milhões de doses para todo o ano. Na campanha atual, que abrange 15 Estados do País, além do Distrito Federal, a previsão do ministério apresentada aos laboratórios é da oferta de 136,2 milhões de doses.

A antecipação da campanha que ocorreu em alguns Estados resultou numa venda de 75 milhões de doses. Esse volume já está com os pecuaristas e foi comercializado em outubro.

Além disso, cerca de 55 milhões de doses já foram liberadas pela Central de Selagem de Vacinas (CVS), órgão do governo federal responsável pelo controle, e estão com os laboratórios. Além disso, há outro lote entre 35 milhões e 40 milhões de doses. ¿Não há a menor possibilidade de falta de vacinas no mercado¿, diz Emílio Balani, presidente do Sindan.