Título: Bush dribla protesto, que acaba em prisão
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2005, Nacional, p. A6

Comitiva desvia rota ao chegar à Granja do Torto; petista foi preso por desacato

Depois de enfrentar megamanifestações com 50 mil pessoas nas ruas da Argentina, durante a 4ª Cúpula das Américas em Mar del Plata, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, foi alvo de protestos bem menores em passagem por Brasília. Cerca de 200 pessoas, a maioria da comunidade árabe, fez uma manifestação em frente à Granja do Torto, onde Bush e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participaram de uma reunião de trabalho seguida de um churrasco. Com faixas de "Fora Bush" e "Assassino" pintadas com o símbolo do nazismo, o grupo fez muito barulho na entrada principal do Torto: queimou bandeiras, cartazes e bonecos do Tio Sam com o rosto do presidente dos EUA e cantou, praticamente sem parar, refrões contra o governo norte-americano. Para evitar o protesto, a comitiva de Bush entrou por uma das portarias laterais do Torto. Cerca de 100 policiais fizeram cordão de isolamento entre a rua e os manifestantes. A entrada do Torto foi cercada com grades de plástico para impedir a aproximação da comitiva de Bush.

Logo após a passagem do presidente norte-americano, a Polícia Militar prendeu o petista Wagner Juracy que, segundo os policiais, tentou ocupar uma das vias de acesso à residência oficial de Lula. Juracy foi autuado por desacato e deveria ser liberado ainda ontem. O deputado João Batista Araújo (PSOL-PA), o Babá, tentou defender o petista e acabou levando sopapos dos policiais. "A polícia veio para cima de mim com toda a truculência e disse que era para eu ir fazer guerrilha em outro lugar", reclamou Babá. "Tomara que o Bush coma carne com febre aftosa", disse.

Um dos motivos para o pequeno número de manifestantes foi a divisão das entidades de classe - como a União Nacional dos Estudantes (UNE), o Movimentos dos Sem Terra (MST) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) - que não protestaram contra Bush por temer que a ação se transformasse em ato contra o governo Lula. "Poderia ter muito mais gente aqui se a CUT e a UNE tivessem usado suas estruturas para fazer propaganda em toda a cidade", disse Rodrigo Dantas, presidente da Associação de Docentes da Universidade de Brasília (UnB). "Não houve possibilidade de mobilização única no Brasil porque tinha gente que não queria se manifestar contra o governo Lula. O fator Lula dividiu a mobilização", disse Babá.

ATRASO

Meia hora depois da entrada de Bush no Torto chegaram dois ônibus com cerca de 60 pessoas do Movimento dos Pequenos Agricultores, pois os ônibus foram retidos pela polícia. "Fora já, fora já daqui, fora Bush e o FMI", gritaram. Outro grupo de 40 pessoas, sem vinculação a movimentos sociais ou entidades de classe, também chegou atrasado ao protesto. Na Esplanada dos Ministério cartazes e bonecos de papel jornal que estavam mutilados e ensangüentados representavam o protesto contra a política externa norte-americana. Com o rosto pintado de "Fora Bush", Isa Viterbo de Lima, funcionária do INSS no Ceará, e cinco amigos se juntaram ao protesto.