Título: Discurso da amizade domina agenda
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2005, Nacional, p. A7

Em encontros com empresários e professores, Bush também aponta Brasil como parceiro estratégico dos Estados Unidos

Antes de encontrar-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Granja do Torto, ontem, o presidente George W. Bush usou um café da manhã com empresários e uma reunião com um grupo de professores universitários, funcionários públicos do escalão intermediário e dirigentes de organizações governamentais para mandar um recado ao País. "Estou aqui porque quero dar um sinal muito claro ao povo do Brasil que a relação entre a América e o Brasil é importante, que o Brasil é um amigo e que o Brasil tem um papel importante em trabalhar com a América para trazer a prosperidade não apenas para nossos próprios cidadãos, mas para ajudar outros, também, e, ao fazendo isso, criar as condições para um continente pacífico", afirmou Bush durante um encontro na embaixada dos Estados Unidos em Brasília com um grupo de 15 "jovens líderes" convidados pela embaixada. O embaixador John Danilovich, que cumpria seu último dia no posto, abriu o encontro explicitando a mensagem embutida no evento. "A promessa, potencial e possibilidades do Brasil não podem ser, talvez, mais visíveis do que em vocês mesmos. Em larga medida, o futuro do país está em suas mãos."

O diálogo de Bush com o grupo foi breve e resumiu-se à resposta que ele deu a uma pergunta feita por Carlos Pio, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília. Pio falou da relação de paz e amor que os povos da região têm com os EUA e citou, entre as razões do sentimento negativo manifestado nos protestos de rua durante a Cúpula das Américas, em Mar del Plata, "a natureza algo missionária" das ações internacionais americanas voltadas para a promoção da democracia, da economia de mercado e mesmo das liberdades civis. "Os EUA têm uma estratégia clara para mudar essa relação de amor e ódio para uma cooperação e amizade?", perguntou Pio.

O presidente americano disse que o fato de a cúpula ter ocorrido "numa sociedade que permite as pessoas expressarem diferentes pontos de vista é positivo". "Eu conto com que haja dissenso. A democracia é isso. As pessoas devem poder expressar-se, e o que aconteceu na Argentina acontece na America." Bush disse que "compreende plenamente que há, às vezes, uma visão da América que, na minha opinião, não é correta". "Você falou em 'zelo missionário para propagar a democracia', e eu tenho um desejo profundo de ajudar outros a assumir uma democracia que respeite suas tradições e costumes."

Participaram do café da manhã Roger Agnelli, da Vale do Rio Doce, Maurício Botelho, da Embraer, Jorge Gerdau Johannpeter, do Grupo Gerdau, Roberto Civita, da Abril, e Pedro Moreira Salles, no Unibanco.