Título: 15,8% em SP têm DPOC, doença pulmonar ligada a fumo e poluição
Autor: Claudia Ferraz
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2005, Vida&, p. A16

Estudo em 5 metrópoles mostra que o mal é um grande problema de saúde pública na América Latina

85% dos portadores de DPOC fumam ou já fumaram

5.ª

causa de morte no Brasil

atualmente

5,5

milhões de pessoas têm a doença no País, segundo estimativas

340%

é a estimativa do crescimento nos últimos 20 anos no País

300

milhões de pessoas é a

estimativa no mundo

12.º

lugar no ranking de doenças que atrapalham a vida diária

NÚMEROS

Os resultados do primeiro estudo multicêntrico da América Latina que mapeou a ocorrência da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), mais conhecida como bronquite crônica e enfisema pulmonar associados, sugerem que ela é um grande problema de saúde pública no continente que ainda não tinha sido detectado.

De acordo com o estudo, batizado de Projeto Latino Americano para Investigação da Doença Obstrutiva Pulmonar (Platino), São Paulo tem uma prevalência de DPOC de 15,8%, considerada alta para a coordenadora da pesquisa, a pneumologista Ana Maria Menezes. A cidade do México teve o menor índice: 7,8%. E Montevidéu apresentou a maior: 19,7% (ver o quadro ao lado).

O projeto Platino foi uma iniciativa da Associação Latino-americana de Tórax (Alat), que o iniciou em 2002 e o concluiu em 2004. Os pesquisadores foram na casa de cerca de mil entrevistados, escolhidos aleatoriamente, em cada uma das cinco grandes áreas metropolitanas: São Paulo, Santiago, Cidade do México, Montevidéu e Caracas. A partir de um questionário e exames de espirometria, que avalia a função dos pulmões, descobriram que a ocorrência da doença é alta.

Segundo estimativas, aproximadamente 300 milhões de pessoas no mundo têm a doença - 9% são acima dos 40 anos e 15% são fumantes. Além disso, segundo a pneumologista Iara Nely Fiks, a DPOC está no 12º lugar de um ranking de doenças que atrapalham a vida diária. "A projeção para 2020 é ela suba para o terceiro lugar", disse ela. No Brasil, é a quinta causa de morte e estima-se que mais de 5 milhões de pessoas sejam portadoras.

Para Iara, a importância do estudo como esse é que ele mostrou a ocorrência da DPOC antes de atingir um estado mais grave. "Ou seja, estudos anteriores, feitos em hospitais, mostraram a prevalência em pessoas com grau avançado. Já a pesquisa analisou pessoas que possivelmente não sabiam que tinham a doença", explica. "Geralmente, as pessoas descobrem que estão doentes em uma fase tardia, quando já há 30% de perda da função pulmonar. Os pacientes só procuram o médico depois de terem passado pela UTI."

Segundo Ana, a principal causa da DPOC é o tabagismo - 85% dos portadores fumam ou já fumaram. "Um dos objetivos da pesquisa é alertar os fumantes sobre os malefícios do fumo. É possível que a prevalência de DPOC seja reduzida drasticamente com a erradicação do tabagismo", disse Ana.

Para dar suporte aos pacientes, o presidente da Associação Brasileira de Portadores de DPOC (www.dpoc.org.br), Manuel de Souza Machado, de 74 anos, arrecada fundos com a venda das "famosas" pulseirinhas com fins sociais. A da associação é verde com a frase: "Respire e Viva" .

Ele diz que começou a fumar por influência da avó, porque na época era "glamouroso". "Hoje se fala dos malefícios do cigarro, mas a moçada continua fumando, é um vício aceito", diz ele, que há sete anos é portador de DPOC. "Eu fico com a mangueirinha de oxigênio no focinho 24 horas por dia, mas tem gente que não se acostuma. Eu não posso sair correndo, mas devagar eu consigo ajudar muita gente", brinca.

Iara, autora do livro DP... o quê? (Editora Claridade, R$ 32), diz que é necessário criar uma cultura de exames de rotina, como ir ao ginecologista, dentista ou cardiologista. "Fazer acompanhamento pulmonar constantemente poderia diagnosticar a doença mais cedo."