Título: Sem pressa, Lula avalia 5 cenários
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2005, Nacional, p. A4

Enquanto o ministro Antonio Palocci se recolhe para avaliar o futuro, o presidente Lula não tem pressa. Lula acredita que o ministro pode se sair bem na exposição que fará dia 22 à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado - ele está também convidado para falar sobre o Fundeb amanhã na Comissão de Educação da Câmara, mas a ida não está confirmada. "Lula pode ir simplesmente jogando com o tempo", diz um integrante do governo. Enquanto isso, nos bastidores do governo, trabalha-se com cinco cenários. CENÁRIO 1

Lula não abrirá mão de Palocci porque está convencido de que a política econômica trará benefícios a médio e longo prazos. A inflação é mantida sob controle e o presidente pode desenvolver a campanha pela reeleição baseado na estabilidade econômica. Nesse cenário, Lula não estaria disposto a correr riscos ou ter de fazer mágicas para garantir o controle da inflação. E, para isso, tentará convencer Palocci a ficar no cargo.

O Planalto ainda avalia a possibilidade de Lula fazer um pronunciamento à Nação em defesa de seu ministro da Fazenda. Existe a hipótese de o presidente se limitar às declarações de apoio em eventos públicos. O grupo palaciano acredita que "não existe mais bala na agulha" da metralhadora de Rogério Buratti e Vladimir Poleto, os ex-assessores de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto.

CENÁRIO 2

Palocci se encontra com Lula na quarta-feira para dizer que sua decisão pessoal e irrevogável é deixar o governo. Sairia porque, apesar de poder se defender das denúncias, não considera que tenha de passar por situações de constrangimento, colocando sua vida familiar exposta à mídia. O ministro jogaria nas mãos de Lula a decisão de manter ou não a atual política econômica de controle dos gastos públicos, sem válvulas de escape para atender às pressões por mais gastos.

CENÁRIO 3

O nome do secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal, para suceder Palocci é o que melhor atende ao mercado financeiro. A política econômica não sofreria nenhuma inflexão. Essa opção não significa um quadro de tranqüilidade para Lula. Os que são contra essa alternativa lembram que Portugal não tem identidade ideológica, amizade com o presidente e tampouco diálogo com o PT. Seria um estranho no ninho exposto às pressões, principalmente da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que assumiu o discurso da necessidade de aumento de gastos no ano eleitoral, apesar de ressalvar que não defende o descontrole da inflação. Portugal bate de frente com ela se quiser manter superávits primários (economia do governo para pagar os juros) crescentes nos próximos anos.

CENÁRIO 4

Trata-se do cenário que mais agrada ao PT, com a opção de indicação do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), para comandar o Ministério da Fazenda. Mercadante teria de "ir para o sacrifício" e abandonar o sonho de governar São Paulo. Muitos petistas acreditam que ele será convencido, porque não há nenhum outro nome que possa fazer uma "inflexão" na política econômica.

As teses do senador são conhecidas: defende meta de inflação menos ambiciosa e uma redução gradativa das taxas de juros. Ele tem dito a assessores que "nem pensa" na possibilidade de abandonar a disputa paulista e, por isso, tem reafirmado a tese de que Palocci não sai.

Tal cenário não considera o afastamento do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Os dois se entendem muito bem e Mercadante esteve ao lado de Meirelles quando ele foi bombardeado por denúncias.

CENÁRIO 5

Há quem cogite ainda a indicação do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, para o lugar de Palocci Essa hipótese é considerada remota por conta das próprias dificuldades de Bernardo, que já mandou avisar que essa alternativa "não existe". O nome dele é considerado frágil, porque foi acusado de prática de caixa 2 em campanha eleitoral no Paraná.