Título: Fragilidade de Palocci faz crescer pressão por mudança na economia
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2005, Nacional, p. A4

Com a possibilidade de o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, deixar o cargo, cresce a pressão dentro do governo e no PT para uma "inflexão" na política econômica. Às vésperas do ano eleitoral de 2006, ministros e parlamentares não se cansam de pedir liberação de verbas, sob alegação de que é preciso fazer mais investimentos. A romaria contrária ao ajuste fiscal mais rigoroso irrita Palocci, que na sexta-feira saiu de Brasília, para um descanso de quatro dias, afirmando que iria "reavaliar a vida". Sob bombardeio dentro e fora do Planalto, o ministro fez um desabafo: disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, diante de tantas divergências, era importante decidir o caminho a percorrer daqui para a frente.

Lula está disposto a defender Palocci e, ao menos até agora, garante que não haverá correções de rota nem mudanças de rumo na política econômica, considerada muito ortodoxa. Em conversas reservadas, revela preocupação com comentários de que vai ceder à tentação para a gastança por ser candidato à reeleição, em 2006. Pretende aproveitar discursos públicos, nesta semana, para falar das "realizações" da economia e mostrar solidariedade a Palocci. Mais: vai dar entrevistas para rádios na sexta-feira.

Mesmo com o aval ao titular da Fazenda, Lula aprecia o estilo da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a "gerente" do governo, encarregada de cobrar eficiência dos colegas e resolver problemas. Porta-voz do time que luta pela abertura do cofre, Dilma tem recebido manifestações de apoio desde que escancarou a disputa travada na Esplanada, em entrevista ao Estado.

"Alguém acredita que se faça uma política de esforço fiscal sistemático sem problemas?", perguntou Dilma. Foi a partir das estocadas da ministra que a situação de Palocci - cercado por denúncias de corrupção feitas por seus ex-auxiliares na prefeitura de Ribeirão Preto - foi ficando cada vez mais difícil.

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, sinalizou ontem o lado em que ficará nesse confronto. Ao conseguir liberar R$ 37 milhões para equipamentos de laboratórios, Rodrigues fez questão de comemorar. "Esta ação foi possível graças ao empenho e compreensão da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), do ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) e do ministro Paulo Bernardo (Planejamento)", diz a nota divulgada por sua assessoria, que deixou Palocci fora dos agradecimentos. Não sem motivo: a Fazenda sempre deu uma "canseira" na Agricultura para soltar recursos.

"Somos prisioneiros de uma visão muito ortodoxa da política econômica", insistiu o deputado José Dirceu (PT-SP), que foi ministro da Casa Civil e está a um passo de ser cassado na Câmara. "O superávit primário, hoje, é mais realista do que o rei", completou, numa referência à economia de gastos para pagamento dos juros da dívida.

Enquadrado pelo governo até algum tempo atrás, o PT - agora sob nova direção - também resolveu deixar a trégua de lado em relação à política econômica. "Temos de acelerar a execução orçamentária", cobrou o presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP). "É possível praticar juros mais baixos. Temos capacidade de ter taxas de juros e esforço fiscal menores em 2006."

Para o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), o momento é muito delicado e o partido deve deixar as cobranças para depois. "Precisamos jogar água nessa fervura primeiro", contemporizou Greenhalgh.