Título: 'John' admite que escreveu carta, mas nega seu conteúdo
Autor: Ana Paula Scinocca e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2005, Nacional, p. A8
CONTRADIÇÕES: Elcyd Oliveira Brito, o John, trunfo do Ministério Público na investigação sobre a morte de Celso Daniel, fez um relato confuso e contraditório à CPI dos Bingos ontem. Admitiu que era dele a letra da carta enviada ao advogado do empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, mas negou o conteúdo. Intrigado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) perguntou se ele tinha sido induzido a redigir aquela correspondência em troca do benefício da delação premiada. "Não houve isso", afirmou John. Inconformado com a insinuação, o promotor Amaro Thomé Filho interrompeu a sessão e fez um desabafo: "Em nenhum momento nosso trabalho foi leviano ou incauto. Meu salário não sofre qualquer alteração. Posso obter cem condenações em um mês ou nenhuma. Minha missão é promover a Justiça." Mais tarde, o promotor destacou que John fez um depoimento "visivelmente constrangido, acuado, contrariado". Para ele, o acusado ficou com medo de sofrer retaliações na prisão se confirmasse o que declarou anteriormente à Polícia e à Justiça. "O que vale é o que ele disse à Justiça", acentuou. Suplicy, por sua vez, disse que continua com a dúvida sobre a motivação do crime. "É algo de que ainda não tenho certeza, se foi crime comum ou de mando." Ele explicou que não tem convicção sobre a eventual participação de Sérgio Sombra como mandante. O senador insistiu diversas vezes ontem, ao tomar o depoimento de John, sobre as razões que levaram o acusado a escrever a carta, que foi lida na sessão de ontem. Nela, John reclama a Sérgio Sombra que ele teria abandonado o grupo que seqüestrou e matou Celso Daniel. Cobra R$ 1 milhão que o empresário teria prometido pelo serviço. "Não iremos segurar tudo isso para você. Falaria a verdade ao juiz e à imprensa. Reza para nós não pegar (sic) nenhum resfriado sequer. Que fique bem claro, a bomba vai explodir." John confirmou que a assinatura da carta era dele e repetiu três vezes que a investigação realizada pela Polícia Civil estava certa e Celso Daniel foi vítima de crime comum .