Título: Depoimento reforça tese de que tortura de Daniel foi encomendada
Autor: Ana Paula Scinocca e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2005, Nacional, p. A8
Ivan Rodrigues da Silva, o Monstro, acusado pelo Ministério Público Estadual de chefiar a quadrilha que seqüestrou e matou o prefeito do PT de Santo André Celso Daniel, admitiu ontem pela primeira vez em depoimento à sessão especial da CPI dos Bingos, em São Paulo, que na manhã de 19 de janeiro de 2002 esteve na cidade de Campinas. Investigação dos promotores criminais de Santo André indica que foi naquela cidade que o comando da organização decidiu mandar torturar o prefeito para que ele revelasse onde estavam documentos relativos ao suposto esquema de corrupção em Santo André. Celso Daniel foi seqüestrado em São Paulo na noite de 18 de janeiro de 2002. A polícia encontrou-o morto dois dias depois, no domingo, dia 20.
Ivan Monstro declarou ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que presidiu a sessão da CPI, realizada na Delegacia-Geral de Polícia, que foi a Campinas para levar a família de um amigo para visitar um preso. Elcyd Oliveira Brito, o John - outro acusado de integrar a quadrilha -, revelou, no entanto, à Justiça, há cerca de dois meses, que Monstro foi a Campinas para acertar os detalhes da tortura e morte do Celso Daniel com Dionísio de Aquino Severo, acusado de ser o coordenador do seqüestro do prefeito morto.
Segundo John, a tortura e a execução de Celso Daniel foram encomendada pelo empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. A quadrilha teria pedido R$ 1 milhão pelo crime.
Apuração feita pelos promotores de Santo André, segundo Amaro Thomé Filho, que integra a força-tarefa do Ministério Público, aponta que foi no encontro entre Dionísio e Monstro que ficou acertado que Daniel deveria ser torturado para revelar o paradeiro de documentos sobre o suposto esquema de corrupção montado na sua administração em Santo André.
Primeiro a prestar depoimento na sessão da CPI ontem, Ivan Monstro revelou ainda que seu pai, um irmão e o padrinho trabalharam na Viação Urbana Transleste, de propriedade de Ronan Maria Pinto, empresário que, segundo o Ministério Público Estadual, participava do suposto esquema de corrupção em Santo André.
ACUSAÇÃO
Segundo a falar na sessão especial da CPI em São Paulo, José Edson da Silva - apontado como outro seqüestrador do prefeito - afirmou que foi torturado pela polícia paulista para confessar o crime. E, ao contrário das versões que deu ao Ministério Público, à Polícia e à Justiça - quando admitiu ter participado do seqüestro de Celso Daniel -, disse que não teve participação no caso.
"Me deram choques nos braços, pernas e partes íntimas", declarou José Edson a Suplicy ontem, na presença dos delegados que o prenderam. "Com a ponta de uma faca riscaram o meu couro e me jogaram no cocho do gado cheio de sal grosso", prosseguiu.
Para o delegado do Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado (Deic), Edson Santi, está claro que José Edson quer se apresentar como vítima. "Ele quer prejudicar a investigação. É uma estratégia de defesa (dizer que foi torturado para confessar) para confundir a instrução processual. Acabamos com sua carreira criminosa. José Edson é um indivíduo que sofre das faculdades mentais", afirmou Santi.
Para a polícia paulista, o assassinato de Celso Daniel foi um crime comum. "Foi um seqüestro comum, com fins lucrativos", declarou o delegado do Deic. Já o Ministério Público fala em crime de mando.
Na sessão da CPI dos Bingos ontem, foram ouvidos ainda Rodolfo Rodrigo dos Santos, o Bozinho, e John.