Título: Skymaster mandou R$ 60 mi para exterior
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2005, Nacional, p. A8

A CPI dos Correios descobriu que a Skymaster, uma das companhias aéreas responsável pela Rede Postal Noturna (RPN) da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), enviou R$ 60 milhões ao exterior nos últimos cinco anos. A informação é do sub-relator de Contratos da CPI, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), que apresenta quinta-feira relatório parcial mostrando que a Skymaster fez a remessa de recursos para duas empresas nas Ilhas Virgens - a Quintessential Group e a Forcefield - através de contratos simulados de arrendamento de aviões.

'Há indícios fortes de que as duas empresas das Ilhas Virgens pertençam aos mesmos donos da Skymaster', afirmou ontem Cardozo. Ele explicou que a Skymaster arrendava aviões da Quintessential e da Forcefield a preços acima de mercado e, depois, repassava o superfaturamento para os contratos com os Correios.

Cardozo citou o caso de avião alugado por US$ 80 mil, quando o preço de mercado era de US$ 7,5 mil. 'Descobrimos que os cheques do pagamento feito pela Skymaster para as duas empresas acabavam nas contas dos proprietários da própria Skymaster', disse o sub-relator. A CPI também detectou o saque de cerca de R$ 30 milhões em dinheiro das contas da Skymaster, nos últimos cinco anos.

'Esse dinheiro pode ter sido sacado para pagar propina ou financiar campanhas eleitorais', argumentou Cardozo. Ele observou ainda que a remessa ao exterior de cerca de R$ 60 milhões é um valor bem próximo ao superfaturamento de R$ 64 milhões apurado por auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) nos contratos entre os Correios e a Skymaster.

Em nota, a assessoria de imprensa da Skymaster negou as informações. A nota afirmou que 'todos os valores que a Skymaster remeteu para os exterior são legais, obedecidas as normas cabíveis, brasileiras e estrangeiras'. Disse ainda que 'não serão comentadas quantias', sob a alegação de que os valores foram obtidos com a quebra de sigilo bancário e fiscal. A nota garantiu também que 'nem a Skymaster nem qualquer de seus sócios remeteu qualquer quantia, seja a que título for, para nenhum paraíso fiscal - o que inclui as Ilhas Virgens'.

Segundo a comissão, a Skymaster enviou 7 parcelas de US$ 95 mil para Quintessential Group e 12 parcelas de US$ 80 mil - totalizando R$ 3,9 milhões - no mesmo dia em que foi aprovada a instalação da CPI dos Correios, em 25 de maio. 'Essas remessas ocorreram, mas não sei se foi no dia da instalação da CPI. Mas isso não importa porque a Skymaster vem usando do subterfúgio de mandar dinheiro para o exterior através de contratos simulados de arrendamento de aeronaves desde 2000', disse Cardozo.

As investigações da CPI apontaram que uma das parcelas de US$ 95 mil se refere ao arrendamento de uma aeronave DC-8-62F, vendida pela Quintessential à Skytrade, que fica em Miami e é do filho do diretor comercial da Skymaster, Luiz Antonio Gonçalves. 'A Quintessential nada vendeu à Skytrade', rebateu a assessoria da Skymaster.

Cardozo pretende propor o indiciamento dos dirigentes da Skymaster e dos ex-presidentes e diretores dos Correios desde 2000.