Título: Comandante é afastado por tortura em batalhão
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2005, Nacional, p. A9

O comandante Ernani Lunardi Filho, do 20º Batalhão da Infantaria Blindada, de Curitiba, foi afastado ontem pelo Comando do Exército, em decorrência da divulgação de imagens nas quais sargentos aparecem sendo violentamente agredidos por colegas numa sessão de "trote". O Comando da 5ª Região Militar da 5ª Divisão de Exército, instância superior do 20º Batalhão, vai conduzir um inquérito policial militar (IPM) para apuração do caso. Segundo nota divulgada ontem pelo Exército, o afastamento do comandante deve-se à "gravidade das denúncias apresentadas" - em reportagem exibida anteontem pelo Fantástico, da TV Globo. Nas imagens, terceiros-sargentos recém-promovidos aparecem recebendo choques elétricos, chineladas nas plantas dos pés e tiveram a pele queimada com um ferro de passar. Enquanto as vítimas são agredidas, alguns de seus colegas da 2ª Companhia de Fuzileiros sorriem e comemoram o trote. Cinco sargentos aparecem sendo agredidos.

A presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Iriny Lopes (PT-ES), elogiou a decisão do Exército de afastar o comandante, mas cobrou providências para que se mude a cultura da violência nos quartéis. "Isso é recorrente no Exército", afirmou. "Isso significa que é preciso haver mudança na formação dentro do Exército. É um problema na origem. Muitos reproduzem ações de tortura considerando a prática natural."

De acordo com a nota divulgada pelo Comando do Exército em 11 de novembro, antes da exibição da reportagem, as imagens de agressões aos militares "são verídicas". O texto assegura: "Não se trata de atividade de instrução militar."

O secretário de Direitos Humanos, Mário Mamede, apoiou o afastamento do comandante do 20º Batalhão e informou que o governo federal vai acompanhar atentamente o caso. "As imagens chocaram a opinião pública. As imagens são fortes e o caso é preocupante."

"BRINCADEIRA "

Segundo Mamede, os responsáveis pelo IPM terão de definir se a violência será tipificada como tortura ou maus tratos. "Com o IPM poderemos saber. Se for um fato isolado, é gravíssimo. Se é corriqueiro, o caso é mais grave ainda", comentou.

Em Curitiba, a informação ontem era de que os 12 sargentos identificados na agressão foram afastados dos serviços externos. Segundo pessoas que entraram em contato com o grupo, os acusados vão alegar que as imagens mostram apenas um "jogo normal", uma espécie de "brincadeira", durante churrasco de confraternização pelo Dia do Soldado e pela formatura dos terceiros-sargentos.